quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SISAL - CARGA PERIGOSA

SISAL
(Carga perigosa)

1 - INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo servir de alerta para aqueles que operam com sisal, tomem ciência da importância e responsabilidade na manipulação, armazenamento, e transporte do sisal.
Sisal é considerado a fibra vegetal que tem maior aplicação no mercado, ele se destaca pelas suas características físico-químicas e propriedades mecânicas.
As fibras vegetais são classificadas de acordo com a sua origem e podem ser agrupadas em fibras de semente (algodão/cotton), fibras de caule (juta/jute, linho/flax, cânhamo/hemp), fibras de folhas (bananeira, sisal, piaçava, curauá, abacá, henequém), fibras de fruto (côco/coir) e fibras de raiz (zacatão).
A sua utilização é vasta, desde fios, cordas, tapetes, capachos, mantas, barbante, bolsas, escovas, pincéis, lonas, sacos, isolamento térmico e acústico, inclusive com utilização para fabricação de celulose, papéis finos e também aplicação na indústria farmacêutica.

2 - PRODUÇÃO E BENEFICIAMENTO
O sisal passa pelas seguintes fases de produção e beneficiamento: plantio, colheita, extração da fibra (desfibramento), lavagem (mergulhada por 8 a 12 horas em água), secagem (ao sol), limpeza da fibra seca (batida ou escovamento), classificação e seleção, enfardamento.
A sua embalagem são em fardos, onde os feixes são organizados longitudinalmente para que as fibras não quebrem, são prensados, e amarrados com cintas de cabo de fibra, fitas de aço ou arame.
Os fardos são preparados em prensas mecânicas ou hidráulicas, dotados de dimensões em forma de paralelepípedo médias C=1,50 x H= 0,50 x L= 0,70 m, podendo variar o peso de 200 a 250 kg. O fardo vem envolto normalmente por tecido (serapilheira) contendo as seguintes informações, em caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número do fardo, nome da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade, unidade federativa e data da prensagem.

3- ESPECIFICAÇÃO TÉCNICA
É um produto fibroso, cujo nome científico "agave sisalana", possui um fator de estiva de 2,832.
O sisal por ser um produto da família de fibras vegetais está sujeito a combustão espontânea, desde que, estejam molhados ou úmidos.
Abaixo a sua classificação segundo IMDG Code:



Sendo uma carga perigosa, risco de incêndio, classificada como:

IMO 4.1 - Inflamável sólido 


IMO 4.2 - Inflamável - Combustão espontânea 


4 - MARCAS DE ALERTA
Dentre as marcas recomendadas para ser estampado temos:



Que significa que estes fardos devem ser mantidos em lugar seco, isento de qualquer tipo de umidade e longe de líquidos.



Não devem ser usados ganchos (hooks), pois o contato e atrito do ferro com o arame ou cinta podem causar faíscas (fagulha).


Deve ser mantido longe do calor (radiação solar), pois o aquecimento aliado a umidade pode provocar a combustão.

5 - FATORES DE RISCOS DA CARGA
Por se tratar de uma fibra vegetal, o sisal é higroscópico, absorve a umidade, levando-o a criar uma descoloração e mofo.
Se ficar exposto a borrifos da água do mar, condensação, chuva, neve ou em contato com produto líquido o produto entra em processo de fermentação biológica (Transformação de uma substância em outra, produzida a partir de microrganismos), pela decomposição do produto causado pelo mofo.  O mofo começa a desenvolver dentro do fardo, vão ficando inchados o que pode levar ao rompimento das cintas (fibra, arame ou fita).
Quebrando as cintas, a compressão é desfeita ou diminuída, levando a um aumento no fornecimento do oxigênio para o interior dos fardos, resultando um maior risco de combustão (triângulo do fogo = oxigênio + comburente + combustível), pois o oxigênio (comburente) vai alimentar o fogo.  Já existindo um aquecimento pela própria fermentação, logo ele é fácil de entrar em combustão espontânea.




Devido ao seu próprio estado, é difícil detectar se o fardo está úmido, o que fica difícil em caso de molhaduras pré-existentes.

6- REGAIN E UMIDADE

Não podemos confundir estas situações que são importantíssimas para entender o que causa um incêndio com o sisal.
Em primeiro lugar temos a umidade relativa do ar no compartimento (porão ou container) que vai transportar o sisal, que é a quantidade de vapor de água na atmosfera deste compartimento, ela é variável, vai depender da ventilação que vai ser aplicada no compartimento.  Em cada situação externa ela vai apresentar uma variável, seja numa condição de calor, chuva, neve, orvalho ou nevoeiro.
A umidade do sisal que é o percentual de água que o material possui em relação ao seu peso úmido.
A fibra deve conter no máximo 13,5% de umidade e ser armazenada em fardos prensados, obedecendo às especificações. 
O Regain é uma propriedade química, é um percentual de água que o sisal possui em relação ao seu peso seco, até atingir o ponto de equilíbrio com a umidade relativa do ambiente.
O regain nos dá um valor em porcentagem , que é calculada sobre o valor da massa de amostra úmida, subtraída a massa de amostra seca, dividido pela massa de amostra seca.

7 - UMIDADE RELATIVA DA CARGA
Devido à higroscopicidade do sisal (de fibras em geral) o nível elevado de umidade relativa, é um fator que requer muita atenção durante o transporte.
Após a secagem, a fibra deve apresentar  umidade entre 10 e 13 %, sendo um dos parâmetros avaliados na compra do sisal.

8 - CLASSE DO INCÊNDIO
As fibras dão origem a Fogo "Classe A", pois se trata de material de fácil combustão com a propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixam resíduos.
Posso afirmar que nem sempre se consegue apagar um incêndio de fardos com abafamento com CO2, e nem tampouco jogando água em cima da chama, a experiência me leva a relatar que pelas condições da chama e condições da própria fibra, será preciso alagar o porão, ou retirar a carga em chama do local e deixar que a mesma queime numa área aberta, sem risco de alastramento.

9 - COMO EVITAR INCÊNDIO
Por ser uma carga perigosa e cujos riscos são altos, alguns fatores ajudam e colaboram para que não exista um incêndio envolvendo o sisal, são eles:
a) Não fumar (tabagismo) no interior do porão ou container quando estiver estivando a carga;
b) Não usar recipiente de água de beber (comum pelos estivadores) junto aos fardos, para evitar derramamento sobre os fardos;
c) Não colocação bacias de iluminação em cima dos fardos;
d) Não estivagem em porões (tank tops) acima de tanques de óleo combustível que sofrem aquecimento;
e) Não estivar em armazéns com teto furado, com goteiras;
f) Durante o transporte de caminhão ou trem, evitar molhaduras;
g) Rotineiramente meter a mão no fardo, se a temperatura apresentar mais elevada do que a temperatura ambiente isolar os fardos colocar ao sol.
h) Não embarcar fardos com resíduos, impurezas provenientes de outros produtos, inclusive de líquidos.

10 - CONCLUSÃO
Sisal por ser uma carga fortemente higroscopia (higroscopicidade), deve sempre ser protegida do mar, a chuva e a água de condensação e também dos níveis elevados de umidade relativa, e quando for observado descoloração e formação de bolor os fardos devem ser isolados, controladas as temperaturas para evitar a combustão espontânea.
O sisal é uma fibra de caráter pecto-celulósico, podendo reter de acordo com os seus graus de beneficiamento, substâncias pécticas incrustantes, substâncias estas que aumentam as características da fibra, permitindo maior absorção de água que a admitida pelo regain.
Sendo o regain adotado para o sisal de 13.5% de umidade, qualquer excesso pode provocar a evolução da microflora microbiana, com a consequente fermentação inicial do material péctico que é transmitida ao material celulósico que constitui a fibra. 


11 - BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS

Relatórios e Publicações Técnicas:

Análise de Fios Equipamentos e Aspectos Relevantes de Qualidade, Circular Técnica 69, Ruben Guilherme da Fonseca, João Cecílio Farias de Santana.

Caracterização Química e Estrutural de Fibra de Sisal da Variedade Agave Sisalana, Adriana R. Marin, Maria A. Martins, Luiz H.C. Mattoso, Odilon R.R. F.Silva

Caracterização de Resíduos de Madeira e Fibras de Sisal para Fabricação de Materiais Compósitos de Matriz Poliéster, Léo C.O. Pereira, Rafael Takahashi, Romulo V.V. Filho, Dênio R.C. de Oliveiras, Roberto T. Fujiyama

Código Internacional de Produtos Perigosos, Resolução MSC 2954 (87) adotou emendas ao IMDG Code - Emenda 35 - 01/07/2011

Fibras de Sisal (Agave Sisalana) Como Isolante Térmico de Tubulações, Dorivalda Santos Medeiros Neira.

Industrial Applications of Natural Fibres, Structure, Properties and Technical Applications, Jörg Müssig, Wiley.

Portarias nº 71, de 16/03/1983, nº 249 de 03/11/1983, nº 122 de 12/04/1984 do Ministério da Agricultura


Sisal,  http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/  Autor(es): Robson de Andrade Santos ; Welinton Brandão 

O Sisal - Produtos, http://www.brazilianfibres.com

Cultura - Sisal - http://www.seagri.ba.gov.br



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