SISAL
(Carga perigosa)
1 - INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo servir de
alerta para aqueles que operam com sisal, tomem ciência da importância e
responsabilidade na manipulação, armazenamento, e transporte do sisal.
Sisal é considerado a fibra vegetal que tem
maior aplicação no mercado, ele se destaca pelas suas características
físico-químicas e propriedades mecânicas.
As fibras vegetais são classificadas de
acordo com a sua origem e podem ser agrupadas em fibras de semente
(algodão/cotton), fibras de caule (juta/jute, linho/flax, cânhamo/hemp), fibras
de folhas (bananeira, sisal, piaçava, curauá, abacá, henequém), fibras de fruto
(côco/coir) e fibras de raiz (zacatão).
A sua utilização é vasta, desde fios, cordas,
tapetes, capachos, mantas, barbante, bolsas, escovas, pincéis, lonas, sacos,
isolamento térmico e acústico, inclusive com utilização para fabricação de
celulose, papéis finos e também aplicação na indústria farmacêutica.
2 - PRODUÇÃO
E BENEFICIAMENTO
O sisal passa pelas seguintes fases de
produção e beneficiamento: plantio, colheita, extração da fibra
(desfibramento), lavagem (mergulhada por 8 a 12 horas em água), secagem (ao
sol), limpeza da fibra seca (batida ou escovamento), classificação e seleção, enfardamento.
A sua embalagem são em fardos, onde os feixes
são organizados longitudinalmente para que as fibras não quebrem, são
prensados, e amarrados com cintas de cabo de fibra, fitas de aço ou arame.
Os fardos são preparados em prensas mecânicas
ou hidráulicas, dotados de dimensões em forma de paralelepípedo médias C=1,50 x
H= 0,50 x L= 0,70 m, podendo variar o peso de 200 a 250 kg. O fardo vem
envolto normalmente por tecido (serapilheira) contendo as seguintes
informações, em caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número
do fardo, nome da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade,
unidade federativa e data da prensagem.
3- ESPECIFICAÇÃO
TÉCNICA
É um produto fibroso, cujo nome científico
"agave sisalana", possui um fator de estiva de 2,832.
O sisal por ser um produto da família de
fibras vegetais está sujeito a combustão espontânea, desde que, estejam
molhados ou úmidos.
Abaixo a sua classificação segundo IMDG Code:
Sendo uma carga perigosa, risco de incêndio,
classificada como:
IMO 4.1 - Inflamável sólido
IMO 4.2 - Inflamável - Combustão
espontânea
4 - MARCAS
DE ALERTA
Dentre as marcas recomendadas para ser
estampado temos:
Que significa que estes fardos devem ser
mantidos em lugar seco, isento de qualquer tipo de umidade e longe de líquidos.
Não devem ser usados ganchos (hooks), pois o
contato e atrito do ferro com o arame ou cinta podem causar faíscas (fagulha).
Deve ser mantido longe do calor (radiação
solar), pois o aquecimento aliado a umidade pode provocar a combustão.
5 - FATORES
DE RISCOS DA CARGA
Por se tratar de uma fibra vegetal, o sisal é
higroscópico, absorve a umidade, levando-o a criar uma descoloração e mofo.
Se ficar exposto a borrifos da água do mar,
condensação, chuva, neve ou em contato com produto líquido o produto entra em
processo de fermentação biológica (Transformação de uma substância em outra,
produzida a partir de microrganismos), pela decomposição do produto causado
pelo mofo. O mofo começa a desenvolver dentro do fardo, vão ficando
inchados o que pode levar ao rompimento das cintas (fibra, arame ou fita).
Quebrando as cintas, a compressão é desfeita
ou diminuída, levando a um aumento no fornecimento do oxigênio para o interior
dos fardos, resultando um maior risco de combustão (triângulo do fogo =
oxigênio + comburente + combustível), pois o oxigênio (comburente) vai
alimentar o fogo. Já existindo um aquecimento pela própria fermentação,
logo ele é fácil de entrar em combustão espontânea.
Devido ao seu próprio estado, é difícil
detectar se o fardo está úmido, o que fica difícil em caso de molhaduras
pré-existentes.
6- REGAIN
E UMIDADE
Não podemos confundir estas situações que são
importantíssimas para entender o que causa um incêndio com o sisal.
Em primeiro lugar temos a umidade
relativa do ar no compartimento (porão ou container) que vai transportar o
sisal, que é a quantidade de vapor de água na atmosfera deste compartimento,
ela é variável, vai depender da ventilação que vai ser aplicada no
compartimento. Em cada situação externa ela vai apresentar uma
variável, seja numa condição de calor, chuva, neve, orvalho ou nevoeiro.
A umidade do sisal que é o
percentual de água que o material possui em relação ao seu peso úmido.
A fibra deve conter no máximo 13,5% de
umidade e ser armazenada em fardos prensados, obedecendo às
especificações.
O Regain é uma propriedade química, é um percentual
de água que o sisal possui em relação ao seu peso seco, até atingir o ponto de
equilíbrio com a umidade relativa do ambiente.
O regain nos dá um valor em porcentagem , que é calculada sobre o
valor da massa de amostra úmida, subtraída a massa de
amostra seca, dividido pela massa de amostra seca.
7 - UMIDADE
RELATIVA DA CARGA
Devido à higroscopicidade do sisal (de fibras
em geral) o nível elevado de umidade relativa, é um fator que requer muita
atenção durante o transporte.
Após a secagem, a fibra deve apresentar
umidade entre 10 e 13 %, sendo um dos parâmetros avaliados na compra do sisal.
8 - CLASSE
DO INCÊNDIO
As fibras dão origem a Fogo "Classe
A", pois se trata de material de fácil combustão com a propriedade de
queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixam resíduos.
Posso afirmar que nem sempre se consegue
apagar um incêndio de fardos com abafamento com CO2, e nem tampouco jogando
água em cima da chama, a experiência me leva a relatar que pelas condições da
chama e condições da própria fibra, será preciso alagar o porão, ou retirar a
carga em chama do local e deixar que a mesma queime numa área aberta, sem risco
de alastramento.
9 - COMO
EVITAR INCÊNDIO
Por ser uma carga perigosa e cujos riscos são
altos, alguns fatores ajudam e colaboram para que não exista um incêndio
envolvendo o sisal, são eles:
a) Não fumar (tabagismo) no interior do porão
ou container quando estiver estivando a carga;
b) Não usar recipiente de água de beber
(comum pelos estivadores) junto aos fardos, para evitar derramamento sobre os
fardos;
c) Não colocação bacias de iluminação em cima
dos fardos;
d) Não estivagem em porões (tank tops) acima
de tanques de óleo combustível que sofrem aquecimento;
e) Não estivar em armazéns com teto furado,
com goteiras;
f) Durante o transporte de caminhão ou trem,
evitar molhaduras;
g) Rotineiramente meter a mão no fardo, se a
temperatura apresentar mais elevada do que a temperatura ambiente isolar os
fardos colocar ao sol.
h) Não embarcar fardos com resíduos,
impurezas provenientes de outros produtos, inclusive de líquidos.
10 - CONCLUSÃO
Sisal por ser uma carga fortemente
higroscopia (higroscopicidade), deve sempre ser protegida
do mar, a chuva e a água de condensação e também dos níveis elevados de umidade
relativa, e quando for observado descoloração e formação de bolor os fardos
devem ser isolados, controladas as temperaturas para evitar a combustão
espontânea.
O sisal é uma fibra de caráter
pecto-celulósico, podendo reter de acordo com os seus graus de beneficiamento,
substâncias pécticas incrustantes, substâncias estas que aumentam as
características da fibra, permitindo maior absorção de água que a admitida pelo
regain.
Sendo o regain adotado para o sisal de 13.5%
de umidade, qualquer excesso pode provocar a evolução da microflora microbiana,
com a consequente fermentação inicial do material péctico que é transmitida ao
material celulósico que constitui a fibra.
11 - BIBLIOGRAFIAS
CONSULTADAS
Relatórios e Publicações Técnicas:
Análise de Fios Equipamentos e Aspectos
Relevantes de Qualidade, Circular Técnica 69, Ruben Guilherme da Fonseca, João
Cecílio Farias de Santana.
Caracterização Química e Estrutural de Fibra
de Sisal da Variedade Agave Sisalana, Adriana R. Marin, Maria A. Martins, Luiz
H.C. Mattoso, Odilon R.R. F.Silva
Caracterização de Resíduos de Madeira e
Fibras de Sisal para Fabricação de Materiais Compósitos de Matriz Poliéster,
Léo C.O. Pereira, Rafael Takahashi, Romulo V.V. Filho, Dênio R.C. de Oliveiras,
Roberto T. Fujiyama
Código Internacional de Produtos Perigosos, Resolução
MSC 2954 (87) adotou emendas ao IMDG Code - Emenda 35 -
01/07/2011
Fibras de Sisal (Agave Sisalana) Como
Isolante Térmico de Tubulações, Dorivalda Santos Medeiros Neira.
Industrial Applications of Natural Fibres,
Structure, Properties and Technical Applications, Jörg Müssig, Wiley.
Portarias nº 71, de 16/03/1983, nº 249 de
03/11/1983, nº 122 de 12/04/1984 do Ministério da Agricultura
Sisal, http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/ Autor(es): Robson
de Andrade Santos ; Welinton Brandão
O Sisal - Produtos, http://www.brazilianfibres.com
Cultura - Sisal - http://www.seagri.ba.gov.br
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