DESCOMPLICANDO A
ESTABILIDADE DE EMBARCAÇÕES
1ª Parte
INTRODUÇÃO
Muitos são os episódios envolvendo estabilidade, navio
entrando com banda fixa, movimentos sem sincronia de um pêndulo, etc..., mas um
caso que presenciei e me chamou a atenção, ocorreu no porto do Rio de Janeiro,
durante uma operação com containers, um navio ao içar um container de 40 pés
tombou no cais, e foi aquela correria!
O que ocorreu? Falta
de estabilidade é a resposta. Uma simples operação de container pode virar um
navio, por isso estabilidade é indiscutível de suma importância para os
profissionais que operam com navios, devem ter uma base sólida dos
conhecimentos e técnicas da movimentação de pesos a bordo.
Para iniciarmos este trabalho, é necessário informar que o
navio tem como referência plana geométricos, que iremos abordar durante a
explanação.
Estabilidade é parte da Engenharia e Arquitetura Naval
que estuda a condição de flutuação de uma embarcação, e o seu comportamento no
meio líquido em diversos critérios de transporte de cargas e passageiros.
Estabilidade está relacionada diretamente à
geometria da embarcação, por isso ela se divide em: Estabilidade Transversal e
Longitudinal.
Toda embarcação tem o seu Caderno de Estabilidade que traz diferentes condições de
estabilidade, cálculos simulados em laboratórios e tanques de provas em
diversas condições desde vazio (light
ship) até carregamento máximo (full
load) permissível, para auxiliar os tripulantes a carregarem suas
embarcações em segurança.
ESTABILIDADE TRANSVERSAL
Para entendermos os princípios da ESTABILIDADE TRANSVERSAL, vejamos um exemplo na prática: ao irmos à
praia, ao deitarmos na água e boiarmos, sentimos que o nosso corpo está mais
leve (peso aparente), logo verificamos que existe uma força vertical de baixo
para cima no meio líquido, que nos torna mais leve, a esta força denominamos EMPUXO (E). É o que acontece a uma
embarcação, e faz com que ela flutue, onde a força do Empuxo é maior que a
força (peso) da embarcação. A unidade de medida do Empuxo é Newton (N).
Antes de
entrarmos propriamente nos princípios da estabilidade vamos conhecer os pontos
notáveis cuja simbologia é adotada por todos os autores, vejamos.
PONTOS NOTÁVEIS
(vamos estudar cada
um a seguir)
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ESTABILIDADE
Para que haja estabilidade o somatório dos momentos de forças
da gravidade e do empuxo tem que ser igual a zero, ou seja, para que uma
embarcação ao girar sobre um eixo vai encontrar duas forças de igual magnitude,
paralelas, porem em sentidos opostos e que formam um braço de momento
perpendicular a estas forças.
A partir
desta proposição temos três condições de equilíbrio estático:
Estável: quando inclinado o navio retorna à
mesma posição que estava antes de se inclinar devido a força de empuxo, que é
maior; (Ex. é igual ao boneco “João Bobo”, você balança e ele volta).
Neutro: quando inclinado volta para uma
posição qualquer (adormece), porque as forças se anulam;
Instável: quando inclinado emborcará devido a
uma força maior que atua sobre o empuxo.
Para que conhecêssemos a dinâmica da flutuação, coube ao
Filósofo, Matemático, Físico, Engenheiro, Astrônomo e Inventor, o Grego ARQUIMEDES descobrir as propriedades do
Empuxo e dar origem ao primeiro princípio da estabilidade. Vejamos alguns
enunciados e suas teorias, e definições que são aplicadas:
1º) Princípio de Arquimedes:
“Todo corpo em equilíbrio e imerso em um fluido, dentro de um
campo gravitacional, fica sob a ação de uma força vertical (Empuxo) aplicada
pelo fluido oposta a este campo, cuja intensidade é igual à intensidade do Peso
(p) do fluido deslocado que é ocupado pelo corpo”.
PLANO DE FLUTUAÇÃO é o plano de superfície da água que
atua em volta do casco, sendo que a parte molhadas abaixo do plano, composto do
volume do casco abaixo deste plano vamos denominar CARENA, é o que se emprega para o cálculo dos deslocamentos das
embarcações.
É o plano horizontal longitudinal ao casco, cujos limites são
o contorno do chapeamento da embarcação, e pelas águas em que ele flutua (veja
figura a seguir).
CARENA é o volume compreendido entre a
superfície molhada e um dado plano de flutuação.
Para que o navio flutue no meio líquido devemos adotar além
do princípio de Arquimedes, o peso do navio que iremos chamar de DESLOCAMENTO (Displ. ) e o ponto resultante de impulsão que atua
sobre o casco que chamaremos de CENTRO
DE CARENA (C), ou CENTRO DE EMPUXO,
ou CENTRO DE VOLUME, que é o centro
de gravidade do volume da água deslocada, bem como do ponto de aplicação da
força chamada EMPUXO (E).
Desta forma
teremos uma embarcação em equilíbrio quando seu peso for igual ao empuxo ou
deslocamento.
FLUTUABILIDADE: É a condição
que tem uma embarcação de flutuar por estar em equilíbrio, isto ocorre quando o
deslocamento desta embarcação for igual à força do empuxo do meio que ela
flutua.
O limite superior da linha do plano de flutuação,
denominamos LINHA DE FLUTUAÇÃO.
Desenho - Google - 19/05/2015
Podemos dizer que o volume que estiver acima do plano de
flutuação será a RESERVA DE FLUTUABILIDADE.
Quem discrimina as diversas condições do plano de flutuação
são as LINHAS DE FLUTUAÇÃO, como exemplo navio vazio será a linha de flutuação leve, flutuação
em plena carga será a linha de flutuação carregada no seu máximo de carga
permissível.
Como toda embarcação está sujeita a balanços, vamos notar que
o peso é fixo, mas as forças atuam de acordo com a força gravitacional para
baixo, em diversos eixos, dando origens aos braços em sentidos diferentes G1 no balanço a bombordo (BB) e no
balanço de boreste (BE) G2 (figura
abaixo), formando um arco de pêndulo.
Na figura vamos verificar que o peso é único, porem com o
movimento vão formar braços diferentes de deslocamento, varia conforme este
pêndulo.
Desta forma então vamos conhecer as forças que são formadas
dando origem então à estabilidade.
Ao movimentar a embarcação cria COTAS em seu plano diametral, que são os elementos da estabilidade,
ou pontos notáveis.
PONTOS NOTÁVEIS
1º) CENTRO DE GRAVIDADE
(G) : (G de Gravity)
Em qualquer corpo (peso) é o ponto (G) no qual podemos assumir como sendo a concentração da sua massa (m), ou seja, o ponto (P) de aplicação da resultante das
forças de gravidade. Para entender melhor em um corpo geométrico como uma bola,
é o centro da bola, num corpo como um paralelepípedo é a interseção de
diagonais.
O Centro de
gravidade terá o seu posicionamento no plano diametral.
O PLANO DIAMETRAL
é o plano vertical longitudinal de simetria do casco.
2º) METACENTRO (M)
É o ponto de intersecção entre uma linha imaginária traçada
verticalmente através do centro de flutuação de uma embarcação flutuando num
meio líquido, e uma linha correspondente ao novo centro de flutuação quando o
navio está inclinado.
Quando o navio está com banda em pequenos ângulos de
inclinação, as linhas de força de empuxo se cruzam em um ponto chamado de metacentro.
Quando o navio está inclinado, o centro de empuxo move em um
arco, dentro do centro geométrico das obras vivas, descrevendo o raio metacêntrico.
Criação do conceito de Metacentro (M) foi na década de 1740, por Pierre
Bouguer, que foi um matemático, físico, hidrógrafo francês, que herdou
conhecimentos de seu pai Jean Bouguer, famoso hidrógrafo, e autor de um tratado
sobre navegação.
Quando a embarcação está em equilíbrio (aprumada), ou seja,
sem banda, podemos dizer que o seu plano é vertical e o centro de carena (B) está contido neste plano.
Quando está a
embarcação com uma banda ela deve estar acima do centro de gravidade para
permitir que um navio retorne para a posição vertical.
Podemos considerar
que o centro de carena, é o ponto geométrico das obras vivas.
OBRAS VIVAS: é a região do casco que fica
submersa, é o volume imerso do casco, localizada abaixo do plano de flutuação.
Porem, se a embarcação adquire uma banda, ou seja, aderne
para um dos bordos, a forma do volume imerso altera, o centro da carena
afasta-se do plano, é modificado, logo o Metacentro desloca-se da linha
vertical de ação do empuxo (veja figura abaixo), formando uma cota (GZ).
O metacentro não pode movimentar-se para baixo do centro de
gravidade, ele sempre deverá estar acima para termos um equilíbrio estável, ou
seja, ter estabilidade.
3º) CENTRO DE CARENA (B)
(B de Buoyoancy)
O volume imerso, sendo denominado volume da carena, logo o centro de gravidade deste
volume, que denominamos centro de carena. A partir deste centro é que temos a
aplicação da força chamada empuxo.
4º) QUILHA (K) ( K de
Keel)
É o ponto de
referência da linha de base a partir do ponto de referência na quilha, que
serve de referência para todas as outras medições.
BIBLIOGRAFIA
http://www.sofisica.com.br/conteudos/Mecanica/EstaticaeHidrostatica/empuxo.php (16/03/2015 - 06:28).
CABRAL José
Paulo F.S., Arquitectura Naval – estabilidade, cálculos, avaria e bordo livre,
Centro do Livro Brasileiro, 1979.
FONSECA,
Maurílio M., Arte Naval, Ministério da Marinha, Rio de Janeiro, 1960.
MANDELLI
Antonio, Elementos de Arquitectura Naval, Libreria Y Editorial Alsina, Buenos
Aires, 1960.
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