DESCOMPLICANDO A
ESTABILIDADE DE EMBARCAÇÕES
2ª Parte
CÁLCULO ESTABILIDADE
TRANSVERSAL
Vimos na 1ª parte que Peso é igual
empuxo, logo peso é igual deslocamento.
P = E ... P = Desl.
Com base no Princípio de Arquimedes,
imaginemos que uma esfera de 5 metros de diâmetro, se estiver totalmente
submergida em um líquido, no caso consideremos a água do mar cuja densidade é
1.025 t/m³, como podemos calcular o empuxo?
Ve = volume da esfera =( 4 (pi) r³)/3 = = 523.33 m³
D=densidade = 1.025 t/m³
Empuxo = Ve x D = 523.33 m³ x 1.025
t/m³ = 536,42 t
Imaginemos uma caixa quadrada cujo
lado mede 2 metros, se estiver com a metade submergida em água doce, densidade
1.000 t/m³, qual será o empuxo?
Vq= volume do quadrado=L³ = 8 m³
D=densidade = 1.000 t/m³
Empuxo = 8 m³ x 1.000 t/m³ = 8 t, sendo a metade será de 4
t
Ou Vq=2x2x1=4³ ... E = 4 m³ x 1.000
t/m³ = 4 t.
Para efeitos do estudo da
estabilidade transversal, vamos considerar:
Figura “X” (navio aprumado – posição inicial)
a)
Navio flutua formando uma linha de água LA
Navio flutua formando uma linha de água LA
b)
Centro de carena em B
Centro de carena em B
c)
Centro de gravidade em G
d)
Ângulo de banda nulo.
Ângulo de banda nulo.
Figura “Y” (navio adernado – posição inclinada)
e)
Navio se inclina formando o ângulo
“a”
f)
Não houve variação do volume imerso,
mas uma distribuição diferente no volume.
g)
Deslocamento do centro geométrico do
novo volume, cujo centro de carena representado por B1.
h)
Formou-se um momento de duas forças;
a de gravidade “G” e a de impulsão “B1” pelo centro de carena.
Quando um navio se inclina, formando o ângulo “a”, o centro de empuxo “B” desloca para fora de centro da linha diametral, enquanto que o centro de gravidade “G” permanece no mesmo local. Desta forma ocorre que as forças de flutuação e gravidade são iguais, porém atuam ao longo de linhas paralelas, mas em direções opostas, formando um braço de binário em uma rotação, ou seja, dois momentos atuando simultaneamente para produzir uma rotação. Ao efetuar a rotação o navio retorna para a posição de equilíbrio, onde as forças de empuxo e da gravidade ficam novamente alinhadas na linha diametral.
Formou-se o lado GZ (BRAÇO DE
ENDIREITAMENTO ou ADRIÇANTE) do triângulo GMZ cujo ângulo é “a”, onde atua um
momento que tende a levar o navio para a posição inicial, o que chamaremos de
MOMENTO DE ENDIREITAMENTO (Me) ou MOMENTO ESTÁTICO DE ESTABILIDADE.
Forma-se o triângulo abaixo cujas
relações temos:
Sen “a” = cateto oposto /hipotenusa =
GZ /GM
Cos “a” = cateto adjacente /
hipotenusa = MZ / GM
Tang “a” = catero oposto / cateto
adjacente = GZ / MZ
Para entendermos
o que segue, vejamos:
MOMENTO DE FORÇA: É o resultado da multiplicação de
peso ou uma força, pela distância ao seu ponto de aplicação.
temos então:
Me = Desl. * GZ ( t.m )
e GZ = GM * sen a
Daí concluímos que:
Me = Desl.
. GZ = Desl. * GM * Sen a
Exemplo: temos um barcaça de forma retangular cujo deslocamento após o
carregamento o seu deslocamento foi de 16000 tons, e apresentava um calado de 8
metros, sendo que o momento de endireitamento apresentava 12000 t.m. Qual o GZ?
Me = Desl. GZ
120000 = 16000 . GZ
GZ = 7.5 m
A posição do METACENTRO (M) varia com
o deslocamento e o calado, sendo que na prática considera-se que até 15° o
BRAÇO DE ENDIREITAMENTO é NULO.
A ALTURA METACENTRICA TRANSVERSAL (M)
ocasiona três condições:
GM > 0 ( “M” acima de “G”) = estabilidade positiva
GM = 0 (“G” = “M”) = estabilidade
nula
GM < 0 (“G” acima de “M”) =
estabilidade negativa.
Daí concluímos:
a) Quanto maior for a GM teremos melhor estabilidade, ou seja, o navio vai
retornar a sua posição de equilíbrio mais rapidamente. (período de balanço
rápido)
b) Se a GM é muito pequeno ou nulo, o navio reagirá lentamente, com
tendência a dar uma parada em um dos bordos, podendo causar uma banda fixa.
c) Se a GM for negativo, sinal que o navio atingiu um ângulo crítico,
podendo emborcar.
d) A GM deve ser mantido de forma que assegure um limite de conforto, sem
comprometer a segurança, e para isto a IMO estabeleceu alguns parâmetros para
cada tipo de navio, porém em geral que a ALTURA METACENTRICA não seja menor que
15 cm, e mantida em toda a viagem.
e) Para isto deve ser feito o cálculo de saída e chegada, para isto são
usados Computadores, Loadmasters, Cargomasters, etc., equipamentos próprios
programados para cada tipo de navio, que fornecem todas as condições de
viagens, distribuição de pesos a bordo, e diversas condições de estabilidade.
Na figura “X” (acima) para
determinarmos KM e KB teremos que ter o calado para entrarmos no ÁBACO ou
CADERNO DE ESTABILIDADE e obtermos os valores na TABELA DE DADOS HIDROSTÁTICOS
(abaixo).
Calado
(m)
|
Deslocamento
(t)
|
TPC
(t)
|
MTC
(t.m)
|
KM
(m)
|
KB
(m)
|
LCB
(m)
|
LCF
(m)
|
Para obtermos o KG será necessário
que se efetue o cálculo, como veremos a seguir, com o cálculo de estabilidade:
1º) Temos que construir uma planilha
de cálculos para determinar o somatório dos momentos verticais (Mv) da
distribuição de todos pesos a bordo, bem como o deslocamento (displ.).
2º) Determinados o Mv e displ.
Obtemos o KG = Mv / Displ.
Descrição
|
Peso
(t)
|
Kg
|
Momento
vertical
|
Peak tank av - Ballast
|
5
|
7,10
|
35,5
|
Tanque 1 – FO – DB STB
|
90
|
0,48
|
43,2
|
Tanque 1 – FO – DB PS
|
110
|
0,48
|
52,8
|
Tanque 2 – FO – DB STB
|
40
|
0,47
|
18,8
|
Tanque 2 – FO – DB PS
|
70
|
0,47
|
32,9
|
Tanque 3 – FO – DB STB
|
90
|
0,44
|
39,6
|
Tanque 3 – FO – DB PS
|
70
|
0,44
|
30,8
|
Tanque 4 – FO – DB STB
|
80
|
0,45
|
36
|
Tanque 4 – FO – DB PS
|
100
|
0,45
|
45
|
Tanque 5 – LO – STB
|
15
|
8,90
|
133,5
|
Tanque 6 – LO - PS
|
12
|
8,95
|
107,4
|
Tanque 7 – DO - STB
|
48
|
6,50
|
312
|
Tanque 8 – DO - PS
|
56
|
7,52
|
421,12
|
Tanque FW - STB
|
70
|
7,25
|
507,5
|
Tanque FW - PS
|
80
|
7,27
|
581,6
|
Peak tank AR
|
15
|
7,10
|
106,5
|
Sobressalentes
|
12
|
8,0
|
96
|
Tripulação & Pertences
|
4.5
|
9,0
|
40,5
|
Consumo
|
3,5
|
7,50
|
26,25
|
PORTE
OPERACIONAL
|
971
|
2667,17
|
|
Porão 1
|
400
|
3,30
|
1320
|
Porão 2
|
700
|
3,33
|
2331
|
Porão 3
|
800
|
3,33
|
2664
|
Porão 4
|
550
|
3,31
|
1820,5
|
Coberta Porão 1
|
250
|
6,50
|
1625
|
Coberta Porão 2
|
380
|
6,45
|
2451
|
Coberta Porão 3
|
420
|
6,47
|
2717,40
|
Coberta Porão 4
|
220
|
6,52
|
1434,40
|
TOTAL
CARGA
|
3720
|
16363,30
|
|
NAVIO
LEVE
|
4200
|
7,50
|
31500
|
DESLOCAMENTO
|
8891
|
50.530,47
|
KG = Mv / Displ. = 50.530,47 / 8891 =
5,68
Considerando que o navio apresentava
os seguintes calados:
AV STB/PS=
6,50 // MN STB = 7,10 // MN PS = 7,05 // AR STB = 8,05 // AR
PS = 8,00
Calculamos o calado médio: CM = [(AV
STB + AV PS) + (MN STB + MN PS) + (AR STB + AR OS) ] / 6 = 43,20 / 6 = 7,20 m
Vamos entrar na TABELA DE DADOS
HIDROSTÁTICOS para obter o valor de KM.
TABELA DE DADOS HIDROSTÁTICOS
|
||||||||
Calado
(m)
|
Displ.
(t)
|
TPC
(m)
|
MCC
(t.m)
|
KM
(m)
|
KB
(m)
|
LCB
(m)
|
LCF
(m)
|
|
6,80
|
7,44
|
3,50
|
||||||
7,00
|
7,41
|
3,60
|
||||||
7,20
|
7,40
|
3,64
|
||||||
7,40
|
7,40
|
3,72
|
||||||
Vamos encontrar o valor de KM = 7,40
Considerando que foi calculada a
correção para superfície livre isto é = SL = (i * Y) / Displ. e foi encontrado Correção SL = 0.31 m.
Obs. Nas próximas edições irei demonstrar como se calcula a superfície livre
de um tanque.
A seguir corrige o KG para a
superfície livre.
KGc = KG + SL = 5,68 + 0.31 = 6,00
Portanto tendo KGc = 6,00 e KM =
7,40, vamos calcular GM:
GM = KM – KGc = 7,40 – 6,00 = 1,40 m
Segundo critérios da IMO o valor
aconselhável é obtido pela fórmula:
Boca do navio = 18 m
Período de balanço para navios de
carga geral = 12
GM = [ (0,77 . Boca) / Período de
balanço ] ² =[(0,77 * 18)/12]² = (1.155)² = 1.33 m
Desta forma comparando o valor do
critério 1.33 e valor obtido pelo cálculo 1,40 chaga-se a conclusão que o navio
encontra-se dentro do critério de estabilidade.
Na figura abaixo temos a CURVAS
CRUZADAS onde obteremos aos valores de GZ para cada ângulo de inclinação com
base no deslocamento calculado Displ. 8.891 t
Desta forma encontramos
Ângulo
“a”
|
15°
|
30°
|
45°
|
60°
|
75°
|
90°
|
GZ
|
0,55
|
1,30
|
1,45
|
1,30
|
0,90
|
0,35
|
Com estes valores traçamos a curva de
estabilidade (abaixo):
Observa-se na curva:
a)
Faixa de estabilidade positiva será
de 0° até cerca de 98°.
b)
Perda de estabilidade e emborca em 98°
c)
Braço máximo de estabilidade GZ =
1.45 m, em 45° de inclinação.
d)
Altura metacêntrica GM = 1.33
BIBLIOGRAFIA
http://www.sofisica.com.br/conteudos/Mecanica/EstaticaeHidrostatica/empuxo.php (16/03/2015 - 06:28).
CABRAL José
Paulo F.S., Arquitectura Naval – estabilidade, cálculos, avaria e bordo livre,
Centro do Livro Brasileiro, 1979.
FONSECA,
Maurílio M., Arte Naval, Ministério da Marinha, Rio de Janeiro, 1960.
MANDELLI
Antonio, Elementos de Arquitectura Naval, Libreria Y Editorial Alsina, Buenos
Aires, 1960.
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