domingo, 23 de abril de 2017

SOBREVIVÊNCIA NO MAR

SOBREVIVÊNCIA NO MAR

Fui solicitado por alguns leitores do meu Blog que eu escrevesse sobre este tópico, mas nunca passei por a situação extrema de ter que abandonar um navio por algum motivo, mas tentarei descrever sobre o que aprendi em meus cursos de formação profissional.

Acredito que a sobrevivência está diretamente relacionada com o treinamento que recebe, pois acho que o tempo é um dos enigmas para a sobrevivência no mar, logo dependerá de diversos fatores entre eles acredito que os principais são: estar abrigado, ter água, comida e um equipamento para comunicação e pedir o socorro mayday, mayday, mayday.

O melhor amigo do náufrago é o colete salva-vidas.

Relatos indicam que muitos tripulantes ou passageiros afogam antes de sofrerem a hipotermia.

A sobrevivência no mar é um desafio, o náufrago tem que encontrar uma maneira de salvar suas energias.

Após uma tempestade ficar boiando em uma embarcação sem cobertura, ou em cima de um objeto flutuante, debaixo de um sol ardente, atingindo por ventos fortes, baixas temperaturas e o mar infestado de tubarões, é imprevisível saber quanto tempo o ser humano irá suportar, mas se você está dentro de uma baleeira, embarcação rígida ou uma balsa inflável, ou bote de resgate, a chance de sobrevivência aumenta, mas de qualquer forma queimaduras e desidratação com certeza poderá ocorrer.

Não tem como fugir das consequências, se ficar muito tempo dentro d’água pode ter uma hipotermia (quando a temperatura central do corpo cai abaixo de 35ºC), ou ser devorado por tubarões, e se ficar exposto ao sol, sofrer queimaduras e insolação.

Mas o pior eu diria que é o pânico, isto ocorre muito em navios de cruzeiros (passageiros) onde não há tempo para fazer exercícios de abandono, e palestras de como comportar em um desembarque para uma baleeira ou balsa inflável, pois através de treinamentos o tripulante poderá testar o seu limite físico e psicológico frente a situações de deriva no mar.

Hoje já existe a obrigatoriedade de cursos específicos para Aquaviários sobre Controle de Multidão e Gerenciamento de Crise, exatamente para capacitar como se controlar em situações extremas e evitar o pânico. 

Na mídia existem inúmero relatos de sobreviventes que passaram dias à deriva no mar em situações precárias que sobreviveram, por isso acho que acima de tudo o equilíbrio psicológico, é o fator preponderante, que vai conduzir o náufrago a fazer uma chamada de socorro em um equipamento de comunicação, ou mesmo saber controlar e utilizar os meios de sobrevivência, planejar e controlar os suprimentos como o uso da dotação de água e ração para alguns dias, usar o próprio macacão como uma boia no caso de um naufrágio, e tantos outros métodos e técnicas.

É muito importante o treinamento, conhecimentos básicos sobre cartas de navegação, saber orientar pelos astros reconhecendo constelações e alguns planetas, saber utilizar a bussola, ter calma nos enfrentamentos de condições climáticas extremas, saber recolher a água de chuva através de uma lona de plástico e um coletor que pode ser um recipiente plástico qualquer, terem a orientação de quais peixes pode comer, são alguns exemplos que podem auxiliar em uma sobrevivência.

Nos relatos de sobreviventes são informados que comeram tartarugas, aves marinhas e peixes, até tubarões, pegavam gaivotas cujo sangue bebia para saciar a sede.

Existem relatos que no caso de ser interceptado por um tubarão que normalmente nada em zig-zag em sua direção, a técnica para afastá-lo é bater com algum objeto, tipo leme da embarcação, em seu nariz, mas é uma operação de risco.

Com base na Convenção STCW, nos cursos do Ensino Profissional Marítimo existem disciplinas / certificação sobre Técnicas de Sobrevivência Pessoal e Procedimentos de Emergência, são treinamentos que o tripulante aprende até como se comportar dentro de uma baleeira.

Existem treinamentos de nadar com ou sem colete salva-vidas, saltar de uma determinada altura do convés com colete salva-vidas, saber desvirar uma balsa inflável emborcada dentro d’água, saber permanecer flutuando nas modalidades de HELP, que consiste em manter os joelhos flexionados, na posição fetal para se aquecer, e HUDDLE quando estiver em grupos devem permanecer em sequencia a cada três dois mantem na posição e o terceiro no centro abraçando os demais, é o aconchego, esta técnica protege contra perda de calor a virilha, axilas, cabeça, pescoço e caixa torácica, bem como saber usar a roupa de imersão, saber acionar a âncora flutuante, lançar foguetes de sinalização, operar equipamentos de rádio, etc.

Para aqueles que embarcam na indústria de offshore são realizados treinamentos de salvatagem e Huet - Helicopter Underwater Escape Training  (treinamento de escapes subaquáticos de aeronaves submersas), procedimento de grande necessidade frente a tantos acidentes que ocorrem em transporte de pessoas para as plataformas e embarcações.

Quando se está dentro de uma embarcação é importante conhecer toda a palamenta da embarcação de sobrevivência e demais componentes, hoje existem muitos filmes na internet que mostram como é feito a liberação da válvula hidrostática e berço, o lançamento, a abertura e acesso a uma balsa inflável dentro d’água, o mesmo como é lançada uma balsa rígida, baleeira free fall, baleeira a motor e a remos, bote de resgate, mas não podemos esquecer que uma baleeira é mais estável do que uma balsa inflável, rígida ou o bote.

Eu diria que a principal decisão do náufrago será ficar perto de onde abandonou a embarcação se conseguiu enviar mensagem de socorro, ou se tiver terra à vista procurar ir de encontro através da embarcação de salvamento, ou de algum objeto que esteja flutuando, mas não nadando para perder energia, portanto se você manter na posição será mais fácil de ser encontrado e salvo.

Modernamente temos diversos instrumentos e equipamentos que são utilizados para solicitar o resgate, entre os utilizados é o Transmissor Rádio VHF Marítimo, o PLB - Personal Locator Beacon (radiobalisas pessoais), radiobalisas de emergência, celulares, etc., e para orientação o GPS é o mais seguro.

Ao longo dos meus anos navegando, ao observar os pássaros marinhos, sempre notei que os mesmos quando o sol ia desaparecendo estas aves voavam em direção a terra, desta forma, é uma informação que poderá auxiliar o náufrago se quer buscar terra.

Com referência a precauções eu diria que o náufrago estando abrigado dentro de uma embarcação, ainda corre riscos, portanto deve manter suas roupas secas, e se possível se proteger com tecidos impermeáveis, para evitar o vento e o frio, pois pode sofrer hipotermia.

Outro aspecto a ser observado é quanto à desidratação que estará sujeito, por isso é preciso dosar o suprimento e evitar falta da água, não esquecendo que o suprimento emergencial sempre será da chuva, que você poderá coletar.

Finalizando não poderia deixar de mencionar quanto ao aspecto de responsabilidade das embarcações na figura do seu comandante de prestar socorro a náufragos, vejamos:

Segundo a INTERNATIONAL CONVENTION FOR THE UNIFICATION OF CERTAIN RULES OF LAW RELATING TO ASSISTANCE AND SALVAGE AT SEA AND PROTOCOL OF SIGNATURE Adopted in Brussels, Belgium on 23 September 1910, em seu artigo 11, dispõe que o Comandante de uma embarcação é obrigado a prestar assistência de salvamento a náufragos.

Segundo a Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS – Safety of Life at Sea), indica em sua apresentação no Capítulo V, Regra 33, dispõe: Situações de perigo: obrigações e procedimentos.
“1 O comandante de um navio no mar que estiver em condições de prestar ajuda ao receber informação de qualquer origem, informando que há pessoas em perigo no mar, é obrigado a dirigir-se a toda velocidade em seu socorro, se possível informando a estas pessoas ou ao serviço de busca e salvamento que o navio está fazendo isto. Esta obrigação de prestar socorro deve ser aplicada independentemente da nacionalidade ou da condição social destas pessoas, ou das circunstâncias em que elas forem encontradas. Se o navio que receber o aviso de perigo não puder ou, na situação específica do caso, não considerar razoável nem necessário dirigir-se para prestar socorro, o comandante deve registrar no livro de quarto os motivos para deixar de prestar socorro às pessoas em perigo, levando em conta a recomendação da Organização, para informar devidamente ao serviço de busca e salvamento adequado”.

Segundo a Lei 7.273 de 10/12/1984, que dispõe sobre a Busca e Salvamento de Vida Humana em Perigo no Mar, nos Portos e nas Vias Navegáveis Interiores, em seu artigo 5º: “Todo Comandante é obrigado, desde que o possa fazer sem perigo sério para sua embarcação, tripulação, passageiro ou para outra pessoa, a utilizar sua embarcação e meios sob sua responsabilidade para prestar auxílio a quem estiver em perigo de vida no mar”....

Conclusão
Quando se fala em sobrevivência acima de qualquer técnica deve prevalecer à força de vontade que deve atuar na mente para enfrentar as condições adversas, e para isto é necessário um grande esforço, sempre empregando corretamente as técnicas desenvolvidas nos diversos cursos sobre o tema, saber também empregar adequadamente toda a palamenta de uma embarcação e racionar o suprimento adequadamente, não deixando vítimas na água.
Falar que não vai ter pânico, acho destemido, na hora de ter que abandonar a embarcação e lançar-se ao mar, existe muitas formas que os estudiosos indicam para gerenciar esses ataques, mas acredito que o pânico está diretamente relacionado à pressa e ao medo da embarcação afundar e ser arrastado para o fundo do mar procure agir com calma e dentro das técnicas que você aprendeu, pois assim poderá superar a ansiedade que é normal para qualquer ser humano frente a uma situação extrema como um naufrágio.

Referências Bibliográficas
Survival at Sea for Mariners, Aviators and Search and Rescue Personnel (Survie en mer pour les marins, les aviateurs et le personnel de recherche et de sauvetage) - NORTH ATLANTIC TREATY ORGANISATION - Published February 2008.
Survival In Cold Warter – Learn Techniques to Improve Your Chances of Survival in Cold Water – http://www.maritimenz.govt.nz



Nenhum comentário:

Postar um comentário