SOBREVIVÊNCIA NO MAR
Fui solicitado por alguns
leitores do meu Blog que eu escrevesse sobre este tópico, mas nunca passei por
a situação extrema de ter que abandonar um navio por algum motivo, mas tentarei
descrever sobre o que aprendi em meus cursos de formação profissional.
Acredito que a sobrevivência está
diretamente relacionada com o treinamento que recebe, pois acho que o tempo é
um dos enigmas para a sobrevivência no mar, logo dependerá de diversos fatores entre
eles acredito que os principais são: estar abrigado, ter água, comida e um
equipamento para comunicação e pedir o socorro mayday, mayday, mayday.
O melhor amigo do náufrago é o
colete salva-vidas.
Relatos indicam que muitos
tripulantes ou passageiros afogam antes de sofrerem a hipotermia.
A sobrevivência no mar é um
desafio, o náufrago tem que encontrar uma maneira de salvar suas energias.
Após uma tempestade ficar boiando
em uma embarcação sem cobertura, ou em cima de um objeto flutuante, debaixo de
um sol ardente, atingindo por ventos fortes, baixas temperaturas e o mar
infestado de tubarões, é imprevisível saber quanto tempo o ser humano irá
suportar, mas se você está dentro de uma baleeira, embarcação rígida ou uma
balsa inflável, ou bote de resgate, a chance de sobrevivência aumenta, mas de
qualquer forma queimaduras e desidratação com certeza poderá ocorrer.
Não tem como fugir das consequências,
se ficar muito tempo dentro d’água pode ter uma hipotermia (quando a temperatura central do corpo cai abaixo de
35ºC), ou ser devorado por tubarões, e se ficar exposto ao sol, sofrer
queimaduras e insolação.
Mas o pior eu diria
que é o pânico, isto ocorre muito em navios de cruzeiros (passageiros) onde não
há tempo para fazer exercícios de abandono, e palestras de como comportar em um
desembarque para uma baleeira ou balsa inflável, pois através de treinamentos o
tripulante poderá testar o seu limite físico e psicológico frente a situações
de deriva no mar.
Hoje já existe a
obrigatoriedade de cursos específicos para Aquaviários sobre Controle de
Multidão e Gerenciamento de Crise, exatamente para capacitar como se controlar
em situações extremas e evitar o pânico.
Na mídia existem inúmero relatos
de sobreviventes que passaram dias à deriva no mar em situações precárias que
sobreviveram, por isso acho que acima de tudo o equilíbrio psicológico, é o
fator preponderante, que vai conduzir o náufrago a fazer uma chamada de socorro
em um equipamento de comunicação, ou mesmo saber controlar e utilizar os meios
de sobrevivência, planejar e controlar os suprimentos como o uso da dotação de
água e ração para alguns dias, usar o
próprio macacão como uma boia no caso de um naufrágio, e tantos outros métodos
e técnicas.
É muito importante o treinamento,
conhecimentos básicos sobre cartas de navegação, saber orientar pelos astros
reconhecendo constelações e alguns planetas, saber utilizar a bussola, ter
calma nos enfrentamentos de condições climáticas extremas, saber recolher a
água de chuva através de uma lona de plástico e um coletor que pode ser um
recipiente plástico qualquer, terem a orientação de quais peixes pode comer, são
alguns exemplos que podem auxiliar em uma sobrevivência.
Nos relatos de sobreviventes são
informados que comeram tartarugas, aves marinhas e peixes, até tubarões, pegavam
gaivotas cujo sangue bebia para saciar a sede.
Existem relatos que no caso de
ser interceptado por um tubarão que normalmente nada em zig-zag em sua direção,
a técnica para afastá-lo é bater com algum objeto, tipo leme da embarcação, em
seu nariz, mas é uma operação de risco.
Com base na Convenção STCW, nos
cursos do Ensino Profissional Marítimo existem disciplinas / certificação sobre
Técnicas de Sobrevivência Pessoal e Procedimentos de Emergência, são
treinamentos que o tripulante aprende até como se comportar dentro de uma
baleeira.
Existem treinamentos de nadar com
ou sem colete salva-vidas, saltar de uma determinada altura do convés com
colete salva-vidas, saber desvirar uma balsa inflável emborcada dentro d’água,
saber permanecer flutuando nas modalidades de HELP, que consiste em manter os
joelhos flexionados, na posição fetal para se aquecer, e HUDDLE quando estiver
em grupos devem permanecer em sequencia a cada três dois mantem na posição e o
terceiro no centro abraçando os demais, é o aconchego, esta técnica protege
contra perda de calor a virilha, axilas, cabeça, pescoço e caixa torácica, bem
como saber usar a roupa de imersão, saber acionar a âncora flutuante, lançar
foguetes de sinalização, operar equipamentos de rádio, etc.
Para aqueles que embarcam na
indústria de offshore são realizados treinamentos de salvatagem e Huet - Helicopter Underwater Escape Training
(treinamento de escapes subaquáticos de aeronaves submersas), procedimento de
grande necessidade frente a tantos acidentes que ocorrem em transporte de
pessoas para as plataformas e embarcações.
Quando se está dentro de uma
embarcação é importante conhecer toda a palamenta da embarcação de
sobrevivência e demais componentes, hoje existem muitos filmes na internet que
mostram como é feito a liberação da válvula hidrostática e berço, o lançamento,
a abertura e acesso a uma balsa inflável dentro d’água, o mesmo como é lançada
uma balsa rígida, baleeira free fall, baleeira a motor e a remos, bote de
resgate, mas não podemos esquecer que uma baleeira é mais estável do que uma
balsa inflável, rígida ou o bote.
Eu diria que a principal decisão
do náufrago será ficar perto de onde abandonou a embarcação se conseguiu enviar
mensagem de socorro, ou se tiver terra à vista procurar ir de encontro através
da embarcação de salvamento, ou de algum objeto que esteja flutuando, mas não
nadando para perder energia, portanto se você manter na posição será mais fácil
de ser encontrado e salvo.
Modernamente temos diversos
instrumentos e equipamentos que são utilizados para solicitar o resgate, entre
os utilizados é o Transmissor Rádio VHF Marítimo, o PLB - Personal Locator Beacon (radiobalisas pessoais), radiobalisas
de emergência, celulares, etc., e para orientação o GPS é o mais seguro.
Ao longo dos meus anos navegando,
ao observar os pássaros marinhos, sempre notei que os mesmos quando o sol ia
desaparecendo estas aves voavam em direção a terra, desta forma, é uma
informação que poderá auxiliar o náufrago se quer buscar terra.
Com referência a precauções eu
diria que o náufrago estando abrigado dentro de uma embarcação, ainda corre
riscos, portanto deve manter suas roupas secas, e se possível se proteger com
tecidos impermeáveis, para evitar o vento e o frio, pois pode sofrer
hipotermia.
Outro aspecto a ser observado é quanto à desidratação que
estará sujeito, por isso é preciso dosar o suprimento e evitar falta da água,
não esquecendo que o suprimento emergencial sempre será da chuva, que você poderá
coletar.
Finalizando não poderia deixar de mencionar quanto ao
aspecto de responsabilidade das embarcações na figura do seu comandante de prestar
socorro a náufragos, vejamos:
Segundo a INTERNATIONAL
CONVENTION FOR THE UNIFICATION OF CERTAIN RULES OF LAW RELATING TO ASSISTANCE
AND SALVAGE AT SEA AND PROTOCOL OF SIGNATURE Adopted in Brussels, Belgium on 23
September 1910, em seu artigo 11, dispõe que o Comandante de uma embarcação é
obrigado a prestar assistência de salvamento a náufragos.
Segundo a Convenção Internacional
para Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS – Safety of Life at Sea), indica
em sua apresentação no Capítulo V, Regra 33, dispõe: Situações de perigo:
obrigações e procedimentos.
“1 O comandante de um navio no
mar que estiver em condições de prestar ajuda ao receber informação de qualquer
origem, informando que há pessoas em perigo no mar, é obrigado a dirigir-se a
toda velocidade em seu socorro, se possível informando a estas pessoas ou ao
serviço de busca e salvamento que o navio está fazendo isto. Esta obrigação de
prestar socorro deve ser aplicada independentemente da nacionalidade ou da
condição social destas pessoas, ou das circunstâncias em que elas forem
encontradas. Se o navio que receber o aviso de perigo não puder ou, na situação
específica do caso, não considerar razoável nem necessário dirigir-se para
prestar socorro, o comandante deve registrar no livro de quarto os motivos para
deixar de prestar socorro às pessoas em perigo, levando em conta a recomendação
da Organização, para informar devidamente ao serviço de busca e salvamento
adequado”.
Segundo a Lei 7.273 de 10/12/1984, que
dispõe sobre a Busca e Salvamento de Vida Humana em Perigo no Mar, nos Portos e
nas Vias Navegáveis Interiores, em seu artigo 5º: “Todo
Comandante é obrigado, desde que o possa fazer sem perigo sério para sua
embarcação, tripulação, passageiro ou para outra pessoa, a utilizar sua
embarcação e meios sob sua responsabilidade para prestar auxílio a quem estiver
em perigo de vida no mar”....
Conclusão
Quando se fala em sobrevivência
acima de qualquer técnica deve prevalecer à força de vontade que deve atuar na
mente para enfrentar as condições adversas, e para isto é necessário um grande
esforço, sempre empregando corretamente as técnicas desenvolvidas nos diversos
cursos sobre o tema, saber também empregar adequadamente toda a palamenta de
uma embarcação e racionar o suprimento adequadamente, não deixando vítimas na
água.
Falar que não vai ter pânico,
acho destemido, na hora de ter que abandonar a embarcação e lançar-se ao mar, existe
muitas formas que os estudiosos indicam para gerenciar esses ataques, mas
acredito que o pânico está diretamente relacionado à pressa e ao medo da
embarcação afundar e ser arrastado para o fundo do mar procure agir com calma e
dentro das técnicas que você aprendeu, pois assim poderá superar a ansiedade
que é normal para qualquer ser humano frente a uma situação extrema como um
naufrágio.
Referências Bibliográficas
Survival at
Sea for Mariners, Aviators and Search and Rescue Personnel (Survie en mer pour
les marins, les aviateurs et le personnel de recherche et de sauvetage) - NORTH
ATLANTIC TREATY ORGANISATION - Published February 2008.
Survival In
Cold Warter – Learn Techniques to Improve Your Chances of Survival in Cold
Water – http://www.maritimenz.govt.nz
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