Este artigo não se trata de um manual, somente fornecer algumas informações que possam orientar os operadores de graneleiros, sendo que manuais e recomendações da IMO devem ser consultadas.
Trata-se de uma espécie de carregamento destinado ao transporte marítimo, que são embarcados em navios graneleiros, para o transporte cumprindo contratos de afretamentos.
São considerados pela SOLAS como grãos: Trigo, milho, aveia, centeio, cevada, arroz, legumes secos, sementes.
Existe um Código especial que orienta para estes embarques que é o Código Marítimo Internacional para Cargas Sólidas a Granel (IMSBC), criado em 2009 e que entrou em vigor em 2011, após a entrada em vigor das alterações aos capítulos VI e VII da Convenção; entretanto já passou por algumas alterações, o que nos instrui que devemos estar sempre atualizando. (imo.org/2024)
São normas implantadas pelo Comitê de Segurança Marítima (MSC), através da Convenção sobre a Organização Marítima Internacional, e adoção sobre o Código de Práticas Seguras para Cargas Sólidas a Graneis, ou seja, práticas e recomendações obrigatórias para este tipo de transporte de cargas, bem como alterações aos capítulos VI e VII da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS) de 1974.
A Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar, 1974 (Convenção SOLAS), conforme alterada trata de vários aspectos da segurança marítima, e contém, nas partes A e B do capítulo VI e na parte A-1 do capítulo VII, as disposições obrigatórias que regem o transporte de cargas sólidas a granel, e o transporte de mercadorias perigosas em forma sólida a granel, respectivamente. Estas disposições são ampliadas no Código Marítimo Internacional para Cargas Sólidas a Granel (Código IMSBC).
Dentre os fatores mais importantes para se operar um navio graneleiro, podemos destacar:
1°) Descrição da Carga: o conhecimento do tipo da carga, é um seus requisitos mais importantes para um transporte seguro, principalmente quando se tratar de carga que requer determinados cuidados, é importante consultar os exportadores quanto às recomendações.
2º) Características da Carga: toda carga tem suas recomendações para o transporte, e a carta de transporte auxilia sempre observando detalhes como ela deve apresentar para o embarque, e sua manipulação, por isso, deve ser vistoriada para ver se preenche as condições contratadas. É importante que o Imediato tenha acesso as recomendações sobre propriedades, e métodos sobre a distribuição da carga a granel, principalmente sobre propriedades físicas e químicas que as cargas apresentam durante o tempo de viagem.
Importante observar que muito transporte ocorre entre
zonas térmicas da Terra, um navio pode se deslocar entre estas zonas, e nestas
mudanças poderá ocorrer umidade dos grãos, portanto é importante conhecer as
características da carga, e verificar os cuidados especiais para garantir a
qualidade do produto e evitar danos aos grãos. Exemplos: segundo informações recomenda-se
manter a umidade do milho entre 12º e 14%, soja entre 11% e 13%, e trigo em
torno de 12%.
Carta de transporte: é uma Carta de Instrução do Exportador fornecendo instruções abrangentes aos agentes e despachantes. Esta carta fornece informações vitais sobre remessa, manuseio de mercadorias e informações alfandegárias.
3º) Limpeza dos porões: qualquer tipo de granel requer certos cuidados na limpeza para evitar contaminações devido aos resíduos que ficam nas cavernas e outras estruturas do porão, por isso, é necessário antes do embarque que os porões sejam varridos e retirados os resíduos, e em seguida baldeados para tirar o pó, principalmente das partes mais elevadas. Em seguida o porão deve ser esgotado pelas duas elipses que ficam na parte de ré, utilizando bombas de esgoto, para em seguida ser feita uma limpeza dos pocetos, e raspagem de detritos acumulados.
4º) Deixar os porões prontos para inspeções dos órgãos responsáveis: nesta inspeção podem inspecionar os Órgãos dos Ministérios, Certificadores, e os Vistoriadores que emitem relatórios para liberação de contratos de afretamentos.
Importante observar que existem alguns tipos de pragas que atacam grãos e sementes que são besouros, carunchos, gorgulhos e traças, por isto, é necessário verificar se os porões estão isentos antes da inspeção dos vistoriadores da agricultura nos portos antes do embarque, para isto deve consultar manuais, no caso da existência dessas pragas é necessário fazer aplicação de métodos químicos, ou seja, aplicação de inseticidas inorgânicas, logo na prática usa-se pulverizações de produtos especiais para expurgar ou fumigar, porem devem ser consultados especialistas em controle de pragas.
5º) Receber a instrução dos carregadores quanto às quantidades a serem embarcadas: são encaminhadas previamente ao Comando do navio a lista de carga, os porto de destino, e instruções para o transporte.
6º) Conhecer o fator de estiva (m³/t): é importante para fazer uma distribuição correta facilitando o controle da operação do terminal quanto aos volumes a serem estivados, neste caso deve ser informado pelos carregadores previamente. Existem tabelas de correções e fatores de estiva que devem auxiliar o navio na programação do carregamento.
7º) Estabelecer a distribuição da carga: é importante neste momento verificar quanto aos calados de saída do porto de embarque e de chegada ao destino, verificando limitações de calado em relação à zona de navegação (Load Line Zones), onde nos EUA e Canadá é rígido o controle pelos Inspetores do Governo.
8º) Cálculo de ângulo de adernamento: é importante que o cálculo prévio das condições do embarque seja realizado através de equipamentos especializados como o Load-Master Program, software de segurança, que são fundamentais para projetar um carregamento eficiente e seguro.
9º) Entregar aos operadores dos terminais um plano de carga: estabelecer a sequência do carregamento fins evitar esforços estruturais (sobrecarga) e eventuais avarias e deformações do casco, o que deve ser seguido rigorosamente, devendo o terminal obedecer a sequência determinada pela embarcação.
Importante observar que o navio é uma viga, sujeito a deformações no casco se não forem programados a distribuição de pesos, pois está sujeito a uma dinâmica de flexão horizontal, que pode levar ao comprometimento da segurança do navio, como no caso o efeito sagging quando o casco se curva para baixo, ou seja, maioria dos pesos concentrados no centro, à meia nau; hogging ocorre quando o casco curva no meio para cima, ou seja, maioria dos pesos nas extremidades, proa e popa.
10º) Ângulo de repouso: é um calculo efetuado para o carregamento de porões parcialmente, onde devem ser observados o volume em metros cúbicos em função da altura em metros da carga, e localizar a ordenada e abscissa encontrando o volume da carga.
Ângulo de repouso: é o ângulo formado com o plano horizontal e a superfície do cone que forma a carga de grão ao ser despejado sobre aquele plano. Para cada tipo de grão dever ser considerado um determinado ângulo de repouso, para isto consultar manuais, para evitar que seja criada superfície livre, descentralizando a massa da carga e gerando banda permanente, comprometendo a estabilidade.
Ângulo de repouso significa o ângulo máximo de inclinação de material granular não coeso (ou seja, de fluxo livre). É medido como o ângulo entre um plano horizontal e a inclinação do cone desse material.
O transporte de grãos é uma das
modalidades mais difíceis e perigosas de transportar a granel, devido ao ângulo
de repouso, ou seja, ângulo de deslizamento de cerca de 20º em relação à
horizontal, ou seja, se o navio balançar e atingir um ângulo superior a 20º
existe a possibilidade da carga se deslocar, causando banda permanente no
navio, ou até mesmo emborcar o navio.
Deve ser consultado o manual de carregamento de grãos dos graneleiros, pois são estudos que apresentam Momentos de Adernamento Volumétricos (VHM), que são valores baseados para cada tipo de grãos, assumindo de 15º (compartimento cheio) até 25º (compartimento parcialmente cheio).
Nota: importante consultar a RESOLUTION A.264(VIII) adopted on 20 November 1973 AMENDMENT TO CHAPTER VI OF THE INTERNATIONAL CONVENTION FOR THE SAFETY OF LIFE AT SEA, 1960.
11º) Cálculo de estabilidade: no próprio load-master poderá calcular o calado estimado final, cálculo da GM inicial na saída do porto de carregamento e na chegada ao porto de descarga. Caso ocorra a necessidade de abastecimento durante a viagem novo cálculo deverá ser efetuado, ou mesmo, alguma movimentação de lastro. Deverá ser calculado o ângulo de inclinação transversal do navio devido aos movimentos do granel. (mais específico para os grãos).
12º) Embarque de grãos: esta carga poderá mover durante o balanço da embarcação, portanto é importante ter o cálculo da estabilidade transversal, e checar da possibilidade de ocorrer balanços superiores ao ângulo de repouso, pois diminui a estabilidade caso seja superior ao ângulo.
13º) Estivagem da carga: na maioria dos carregamentos os navio sempre terão um ou mais porões parcialmente carregados, quando ocorrer após o embarque do grão, estes porões deverão ser nivelados de forma a manter o navio adriçado, evitando o cone. No caso de carga parcial deve ser nivelada todas as superfícies livres dos grãos para minimizar o efeito do deslocamento dos grãos. No caso de enchimento total, todos os espaços sobre o convés, ou seja, as braçolas devem ser estivados grãos até a tampa da escotilha.
14º) Deslastro: o navio normalmente entra no porto para carregamento com seus tanques de lastro, totalmente ou parcialmente cheios, e durante a operação de carregamento vai ser feito o deslastro, com a finalidade maior de evitar sobrecarga estrutural.
Água de lastro: é a água depositada nos tanques elevados ou de fundo duplo dos navios para fazer o equilíbrio de pesos para compensação da estabilidade dos navios. No momento da descarga poderá haver comprometimento do ambiente marinho, por isto, é importante ter o controle de onde fazer o lastro dos tanques, com água do mar limpa. É uma operação essencial para a segurança do navio, entretanto preocupante pois pode causar no deslastro liberação de espécies invasoras que podem trazer comprometimento para a saúde e meio marinho. O cuidado com as águas interiores como portos, lagoas, rios, é necessário para evitar sucção de lama e detritos, que vem acompanhados de bactérias marinhas cultiváveis como exemplo vibrios, coliformes fecais, escherichia coli, esterococos fecais, v. cholerae, etc.
Trim: O caimento do navio refere-se ao equilíbrio de uma embarcação no eixo longitudinal, especificamente ao equilíbrio entre a proa e a popa. É o ângulo em que a quilha de um navio se desvia do plano horizontal quando vista de lado, representando a diferença de calado entre as extremidades dianteira (proa) e traseira (popa) de um navio.
15º) Trimagem: é parte de estabilidade longitudinal da embarcação, o que para isso o Imediato reserva uma certa tonelagem para finalizar o carregamento dentro do trim esperado para a saída do porto.
Não existe uma regra, é uma prática adotada pela experiência aplicada para cada tipo de navio em relação ao seu deslocamento, o que na prática o Imediato reserva uma tonelagem para aplicação no final do carregamento para ajustar o trim desejado de saída.
16º) Término do carregamento: após cumprido o embarque programado, os calados deverão ser verificados, e providenciar o fechamento das escotilhas após a fumigação, se for o caso, e lacrados agulheiros e tampas de escotilhas. Podem ocorrer de não ser estabelecido a lacração das tampas de escotilhas, pois em caso de condições propícias de mar, serem abertas para uma ventilação.
17ª) Fumigação: para o caso de grãos poderá ser necessária a fumigação antes do carregamento com produtos químicos para no caso de alguma ocorrência de insetos. Poderá ocorrer também com os porões carregados.
18º) Ataque de Pombos: é
uma questão de biossegurança, o ataque dos pombos para o embarque de grãos,
pois é considerado uma praga, sendo que a
grande concentração dessas aves nos portos, terminais e silos pode comprometer
a saúde e ao ambiente devido as suas feses que podem gerar doenças como salmonelose,
criptococose e histoplasmose. Em alguns portos descobertas feses de pombos
sobre a carga, podem considerar como inadequadas e serem recusadas.
19º) Precauções: antes do embarque de grãos os difusores de CO2 normalmente são vedados para evitar o entupimento da rede de CO2, bem como as tampas dos pocetos serem cobertas para evitar entrada do granel e causar entupimento da rede de esgoto. Os ventiladores devem ser fechados e bloqueados para evitar acesso de água salgada em caso de embarques de mar. Na prática marítima pelos porões serem estivados sem espaço vazios, fica evidente que a ventilação de superfície é difícil ou impossível, logo tentar ventilar é ineficaz, é melhor segundo especialistas deixar sem ventilar, abrir tampas de escotilhas em alto mar é alto risco de acidentes, que podem comprometer a carga.
Pó de grãos é perigoso: todo pó de grãos em suspensão é considerado uma fonte de ignição, ou seja, pode ser um gerador de incêndio e causar explosão. A estivagem do grão a bordo cria uma ambiente em espaços confinados como descidas de agulheiros perigosos por causa da falta de oxigênio, para isto, todos os cuidados devem ser observados para evitar riscos de intoxicações e perdas de vidas.
20º) Início de carregamento: as esteiras e carregadores devem ser direcionadas inicialmente aos porões centrais e depois os extremos de forma parcial e complementando com passagens fins evitar sobrecarga.
21º) Cálculo da quantidade de carga embarcada: após o término sempre ocorre a verificação de quantidades pelo processo de draft survey, logo serão feitas leituras dos calados nos dois bordos, para encontrar o calado médio final, que será fonte para o calculo de estabilidade, bem como as quantidades serem confrontadas para dirimir dúvidas e atender ao contrato de afretamento.
22º) Cuidados durante o transporte: durante a viagem podem ocorrer necessidade de tanques de óleo localizados abaixo de determinados porões, o que para isto, recomenda-se evitar fins evitar alta temperatura sobre o forro do porão que poderá impactar em queima de grãos. É necessário que o Chefe de Máquinas em parceria com o Imediato estabeleça um plano de distribuição dos tanques de combustíveis.
Considerações finais:
Os principais riscos associados ao embarque de granéis sólidos são aqueles relacionados a danos estruturais devido à distribuição inadequada da carga, perda ou redução de estabilidade durante a viagem e reações químicas das cargas. Os requisitos para o transporte de grãos são cobertos pelo Código Internacional para o Transporte Seguro de Grãos a Granel (Código Internacional de Grãos, 1991).
Os riscos contra os trabalhadores é alto, pois a exposição à poeira da carga pode trazer complicações, para isto é importante usar roupas de proteção, óculos de proteção ou outra proteção equivalente para os olhos contra poeira e máscaras com filtro de poeira.
Cuidados devem ser tomados nos períodos de precipitação, a carga deve ser carregada e mantida seca, para isto é necessário toda a atenção, preparados para um fechamento rápido quando iniciar uma chuva.
Medidas contra combustão espontânea: podem ocorrer que cargas embarquem em condições úmidas e podem causar combustão espontânea, com o navio totalmente carregado e não existindo ventilação no porão para a secagem, o calor natural da passagem pelo Equador devido águas quentes, bem como pelo aquecimento dos tanques de combustíveis, ou mesmo devido ao calor da estrutura da praça de máquinas que atinge o último porão a ré, poderá aquecer a carga ao ponto de ocorrer a combustão, entretanto devido à restrição de falta de oxigênio, a carga poderá inflamar no momento de remoção, gerando incêndio. O monitoramento das temperaturas dos porões é um requisito para evitar a combustão espontânea.
A National Cargo Bureau, Inc. Grain Stability Calculation Form Guidance, apresenta o seu folmulário (https://natcargo.org/wp-content/uploads/2022/08/Grain-Stability-Certificate-Calculation-Form-2021.pdf) para o preenchimento e apresentação aos vistoriadores da National Cargo Bureau (NCB), para a aprovação e emissão do certificado (Natcargo/2024)
Referências bibliográficas:
https://natcargo.org/ - Grain Stability Calculation Form
https://www.imo.org/ - IMSBC Code
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