Alguns minérios finos podem gerar o fenômeno da liquefação, uma característica de transformação de um estado sólido para um estado quase fluido, dentre os mais perigosos temos o níquel, além de vários concentrados minerais.
O níquel é um dos metais
mais procurados industrialmente por sua aplicação em diversos produtos
principalmente na fabricação do aço inoxidável, como também em ímãs, moedas e
baterias recarregáveis.
Qual o perigo no transporte
do níquel? A liquefação ocorrendo, passando de um estado solido
para o estado líquido, a estabilidade do navio será comprometida devido ao
efeito da superfície livre e deslocamento da carga, o que poderá resultar em
adernamento, causando banda permanente e conseqüente naufrágio.
Efeito da superfície livre
(free surface effect): Quando o tanque ou porão de um navio está totalmente
cheio, o líquido não pode mover para os bordos, logo o peso é estático e não
haverá problema de estabilidade, porem parcialmente cheio, como no caso da
formação de líquido do níquel, o liquido com o balanço do navio se desloca para
o lado, e seu centro de gravidade muda para o lado do balanço, desta forma o
centro de gravidade é alterado para o bordo inclinado reduzindo a estabilidade.
É o risco mais perigoso no
transporte pelos graneleiros, barcaças e outros meios de transporte de graneis
sólidos.
O que ocorre com o níquel e
outros minerais? A
liquefação é causada pelas propriedades materiais de certos minérios como o
níquel, bauxita e outros minerais.
Ocorre que determinados minerais possuem a característica de apresentar o teor
de umidade muito alto, acima do limite de umidade transportável (TML).
O maior risco que todo navio
que tem o seu rolamento normal, será a movimentação do líquido, de acordo com
as condições do mar, logo cada força de balanço terá o seu rolamento de acordo,
o que no caso do transporte de minérios como no caso do níquel que liquefaz,
poderá gerar uma banda, e com balanços a amplitude vai aumentar e causando o risco
de emborcar.
A banda gerada, mais a
amplitude do balanço poderá ser tão rápido que nem sempre dará tempo para
evitar o emborcamento, e a tripulação não ter tempo de abandonar o navio e salvar.
Existem estatísticas de uma
série grande de navios que afundaram devido a questão de liquefação de
minérios, bem como perdas de vidas.
Existem diretrizes para
aumentar a conscientização dos riscos da liquefação, e evitar sinistros, porém
o que se verifica na prática que os riscos são imprevisíveis.
Alguns estudiosos sobre o
níquel e sua liquefação, citam que é “a carga mais perigosa do mundo.”
O que os estudiosos indicam
que o níquel poderá se liquefazer se porventura o teor de umidade exceder o
limite de Umidade Transportável (TML), ou seja, o níquel passará a agir como
líquido quando o Flow Moisture Point (FMP) é atingido.
Importante observar que o
níquel não está listado no código IMSB, porém segundo especialistas deverão ser
considerados como carga de liquefação do grupo “A”.
The International Maritime
Solid Bulk Cargoes Code discrimina as cargas do Grupo A que são cargas que
possuem um risco devido à umidade, que pode resultar em liquefação ou separação
dinâmica, se enviadas com um teor de umidade superior ao seu limite de umidade
transportável.
Oportuno salientar que os
minérios são transportados das minas em veículos descobertos, o que podem ser
molhados no caso de chuva, o que poderá agravar para a situação da liquefação.
IMSBC CODE: é
a convenção que rege o transporte seguro de cargas sólidas a granel. Isso se tornou
um instrumento obrigatório sob a Convenção SOLAS em 2011, sendo que a última
edição atualizada ocorreu em 2016, trata de conceitos e abordagens referentes
ao transporte de cargas sólidas a granel, que instrui sobre os riscos no
transporte.
Com relação aos diversos
sinistros ocorridos, e relatados na mídia, o que entendo que as metodologias
para apuração do teor de umidade e as técnicas laboratoriais não devem estar
sendo compatíveis com os padrões de instrução do Código IMSBC, onde amostras
devem ser coletadas antes do embarque e testadas em laboratórios, somente aparência
visual e informações de terceiros não têm sequer uma garantia de transporte
seguro, pois a carga do grupo “A”, no caso níquel se embarcada com teor de
umidade superior ao seu limite de umidade transportável (TML), com certeza vai
causar problemas durante a viagem.
Não podemos esquecer que
estes tipos de minerais ficam armazenados em pátios a céu aberto e sujeitos a
pegarem chuvas, e ficarem encharcadas.
Outra situação que deverá
ser observado nos carregamentos, é que sempre são realizados no máximo da
capacidade de carga, com intuito de obter o maior frete possível, e a questão
é, será que vem sendo aplicada a Convenção Internacional da Borda Livre, em
relação ao correto limite das linhas de carga máxima, será que vem sendo
criteriosamente cumpridas, fica o questionamento.
Referências bibliográficas
KNIGHT, K.G. - Lloyd’s
Survey Handbook, 1985
sites consultados
https://www.bimco.org/ -
Beware of shipping illegal nickel ore from Philippines, 2017
https://www.cargohandbook.com/
- Ores unprocessed, 2024
https://www.imo.org/ -
Sub-Committee on Dangerous Goods, Solid cargoes and Containers (DSC) - 17th
Session, 17-21 September 2012
https://www.iims.org.uk/ -
The dangers of carrying nickel ore cargo and the associated risks are
highlighted by The West of England P&I Club, 2018
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