domingo, 18 de agosto de 2024

LIQUEFAÇÃO DE MINÉRIOS – O MAIOR PERIGO NO MAR

Alguns minérios finos podem gerar o fenômeno da liquefação, uma característica de transformação de um estado sólido para um estado quase fluido, dentre os mais perigosos temos o níquel, além de vários concentrados minerais.

O níquel é um dos metais mais procurados industrialmente por sua aplicação em diversos produtos principalmente na fabricação do aço inoxidável, como também em ímãs, moedas e baterias recarregáveis.

Qual o perigo no transporte do níquel? A liquefação ocorrendo, passando de um estado solido para o estado líquido, a estabilidade do navio será comprometida devido ao efeito da superfície livre e deslocamento da carga, o que poderá resultar em adernamento, causando banda permanente e conseqüente naufrágio.

Efeito da superfície livre (free surface effect): Quando o tanque ou porão de um navio está totalmente cheio, o líquido não pode mover para os bordos, logo o peso é estático e não haverá problema de estabilidade, porem parcialmente cheio, como no caso da formação de líquido do níquel, o liquido com o balanço do navio se desloca para o lado, e seu centro de gravidade muda para o lado do balanço, desta forma o centro de gravidade é alterado para o bordo inclinado reduzindo a estabilidade.

É o risco mais perigoso no transporte pelos graneleiros, barcaças e outros meios de transporte de graneis sólidos.

O que ocorre com o níquel e outros minerais?  A liquefação é causada pelas propriedades materiais de certos minérios como o níquel, bauxita  e outros minerais. Ocorre que determinados minerais possuem a característica de apresentar o teor de umidade muito alto, acima do limite de umidade transportável (TML).

O maior risco que todo navio que tem o seu rolamento normal, será a movimentação do líquido, de acordo com as condições do mar, logo cada força de balanço terá o seu rolamento de acordo, o que no caso do transporte de minérios como no caso do níquel que liquefaz, poderá gerar uma banda, e com balanços a amplitude vai aumentar e causando o risco de emborcar.

A banda gerada, mais a amplitude do balanço poderá ser tão rápido que nem sempre dará tempo para evitar o emborcamento, e a tripulação não ter tempo de abandonar o navio e  salvar.

Existem estatísticas de uma série grande de navios que afundaram devido a questão de liquefação de minérios, bem como perdas de vidas.

Existem diretrizes para aumentar a conscientização dos riscos da liquefação, e evitar sinistros, porém o que se verifica na prática que os riscos são imprevisíveis.

Alguns estudiosos sobre o níquel e sua liquefação, citam que é “a carga mais perigosa do mundo.”

O que os estudiosos indicam que o níquel poderá se liquefazer se porventura o teor de umidade exceder o limite de Umidade Transportável (TML), ou seja, o níquel passará a agir como líquido quando o Flow Moisture Point (FMP) é atingido.

Importante observar que o níquel não está listado no código IMSB, porém segundo especialistas deverão ser considerados como carga de liquefação do grupo “A”.

The International Maritime Solid Bulk Cargoes Code discrimina as cargas do Grupo A que são cargas que possuem um risco devido à umidade, que pode resultar em liquefação ou separação dinâmica, se enviadas com um teor de umidade superior ao seu limite de umidade transportável.

Oportuno salientar que os minérios são transportados das minas em veículos descobertos, o que podem ser molhados no caso de chuva, o que poderá agravar para a situação da liquefação.

IMSBC CODE: é a convenção que rege o transporte seguro de cargas sólidas a granel. Isso se tornou um instrumento obrigatório sob a Convenção SOLAS em 2011, sendo que a última edição atualizada ocorreu em 2016, trata de conceitos e abordagens referentes ao transporte de cargas sólidas a granel, que instrui sobre os riscos no transporte.

Com relação aos diversos sinistros ocorridos, e relatados na mídia, o que entendo que as metodologias para apuração do teor de umidade e as técnicas laboratoriais não devem estar sendo compatíveis com os padrões de instrução do Código IMSBC, onde amostras devem ser coletadas antes do embarque e testadas em laboratórios, somente aparência visual e informações de terceiros não têm sequer uma garantia de transporte seguro, pois a carga do grupo “A”, no caso níquel se embarcada com teor de umidade superior ao seu limite de umidade transportável (TML), com certeza vai causar problemas durante a viagem.

Não podemos esquecer que estes tipos de minerais ficam armazenados em pátios a céu aberto e sujeitos a pegarem chuvas, e ficarem encharcadas.

Outra situação que deverá ser observado nos carregamentos, é que sempre são realizados no máximo da capacidade de carga, com intuito de obter o maior frete possível, e a questão é, será que vem sendo aplicada a Convenção Internacional da Borda Livre, em relação ao correto limite das linhas de carga máxima, será que vem sendo criteriosamente cumpridas, fica o questionamento.

Referências bibliográficas

KNIGHT, K.G. - Lloyd’s Survey Handbook, 1985

sites consultados

https://www.bimco.org/ - Beware of shipping illegal nickel ore from Philippines, 2017

https://www.cargohandbook.com/ - Ores unprocessed, 2024

https://www.imo.org/ - Sub-Committee on Dangerous Goods, Solid cargoes and Containers (DSC) - 17th Session, 17-21 September 2012

https://www.iims.org.uk/ - The dangers of carrying nickel ore cargo and the associated risks are highlighted by The West of England P&I Club, 2018

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