sábado, 28 de setembro de 2024

TRANSPORTE DE SACARIA DE CAFÉ EM CONTEINERES

Este artigo ilustra uma ideia de prevenção para este tipo de transporte.

O café é um dos maiores mercados de commodities do mundo, com o estimulante matinal de muitos vindo em segundo lugar, depois do petróleo! Todos os anos, 7 bilhões de quilos de café são comercializados e 133 milhões de sacas são exportadas, criando um mercado de 28 bilhões de dólares. (freightcenter – 2024)

O café é considerado a quarta maior cultura agrícola em faturamento segundo informações da ebc e o transporte em contêineres encontra desafios por se tratar de uma carga higroscópica e delicada, ou seja, contem certa quantidade de umidade, tornando-os vulneráveis à condensação. Ocorrendo condensação e dependendo do tempo estivado dentro de um contêiner os riscos de avarias por umidade e fungos poderá ocorrer. (agenciagov.ebc, 2024).

Como escolher o contêiner para o transporte?

Existem mais de 20 milhões de contêineres de transporte intermodais no mundo, mas você precisa ter certeza de que o seu é adequado para transportar café. A primeira questão é se o contêiner em si é sólido, ou seja, não está cheio de furos enferrujados. A segunda é o que foi transportado anteriormente no contêiner. Qualquer coisa com um componente químico provavelmente deixará um odor residual que contaminará o café durante o transporte. Da mesma forma, qualquer tentativa de limpar o contêiner também pode resultar em um cheiro residual do tipo "desinfetante" que estragará novamente os grãos - chamamos esses contêineres de "grau alimentício". (drwakefield, 2024)

Durante o transporte das sacarias contendo o café em grãos estivado/armazenados em contêiner, a possibilidade de aumento da condensação poderá ocorrer, por se tratar de um invólucro com a mínima janela de ventilação na parte superior, ambos os lados, o que não oferece boa troca de ar.

É de suma importância que o café seja protegido da umidade durante o transporte.

Segundo especialistas informam que o ideal é que o café armazenado e transportado deve estar a uma temperatura interna de 18 a 25 °C.

Por meio de mudanças maiores na temperatura, a água condensada se acumula nas paredes internas do contêiner, também chamada de "suor do recipiente", o que leva gotejamento do teto, pingando sobre as sacarias.

A umidade pode fazer com que o café altere seus aromas, apodreça e se torne um perigo para a saúde dos consumidores.

Importante observar que trocas de ar dentro do contêiner é fundamental, o que dificultará o equilíbrio do ponto de orvalho, evitando a formação do suor e gotejamento.

Trata-se de uma situação difícil de evitar a condensação, porque temos que observar que o transporte ocorre em muitos casos com a estufagem e embarque ocorrendo no verão brasileiro para descarga no inverno europeu, passando pelo equador onde aumenta possibilidades do suor do contêiner, pois enfrenta temperaturas altas, o que aumentam as chances da condensação dentro do contêiner.

Em determinados portos na Europa sacos manchados de ferrugem (que desprende da estrutura do container) são condenados.

O que na prática ocorre são situações de proteção, poderá ser feito uma forração das paredes e piso do container, bem como na parte superior do bloco de estivagem, com papelão Kraft, ou papelão ondulado, porem com as ondulações voltadas para os painéis laterais, o que entendo geram duas situações, evita o pingamento do teto direto sobre o bloco de estivagem, mas por outro lado bloqueia a fraca ventilação já característica devido à própria estrutura do contêiner.

Indiferente do transporte de sacaria em porões, onde se faz corredores de ventilação, no contêiner a estivagem normalmente é feita em xadrez, cruzando camadas para evitar que se movimentam, no caso do contêiner não ocorre canais de ventilação.

Para que diminuem os riscos da condensação normalmente a sacaria é feita de fibra natural (sisal ou juta) sendo que pode ocorrer também o ensacamento em polipropileno, o que não é muito aconselhável, pois não permite o mesmo nível de ventilação. O saco de fibra natural também absolve umidade.

Um grande temor no transporte de contêiner com café no caso de molhadura de sacarias é o da formação de fungos, o que torna condenável.

É uma situação difícil de não prever uma condensação quando se transporta de clima quente para clima frio, pois sempre a tendência é que a temperatura ambiente dentro do contêiner altere durante a travessia.

A condensação nas paredes internas do contêiner ocorrerá quando estiverem mais frias do que o ponto de orvalho do ar dentro do contêiner.

Por se tratar de uma carga nobre, é fundamental que a escolha do contêiner deve ser a primeira observação, um container com estrutura comprometida e em estado péssimo de conservação não deve ser utilizado para este tipo de transporte.

Outro ponto importante a observar, que o contêiner deve estar isento de ferrugem nas suas paredes internas, principalmente no teto, pois ocorrendo gotejamento devido à condensação que vai contaminar a sacaria, onde gera manchas.

É comum encontrar contêineres com bolhas de ferrugem no teto, o que poderá estar escondido um furo, consequentemente facilitando entrada de água salgada dos borrifos do mar, de chuva ou de neve.

O fechamento das portas deve estar em perfeito estado, borrachas endurecidas é uma condição de risco para a perfeita vedação.

Importante observar na questão das últimas cargas transportadas pelo contêiner, se houve transporte de algum produto químico com certeza deixou algum odor, que vai contaminar o café, por se tratar de um produto higroscópico.

A limpeza é fundamental evitando usar produtos que contenham odor como exemplo desinfetante, buscando utilizar produtos neutros e desengraxantes, para uma perfeita limpeza.

A limpeza é importante, entendo que a lavagem interna para tirar odore sempre é recomendável, não podendo esquecer que o piso dos contêineres tem como padrão madeira, compensado naval ou placas perfuradas, onde pode incrustar sujeiras de prévias cargas transportadas, neste caso deve ser raspado qualquer resíduo aderido ao piso ou nas paredes internas.

Vazamento de cargas no interior sempre acontece, líquido ou pó, poderá acumular nos cantos das paredes, o que será necessário utilizar jatos de água para uma perfeita limpeza.

Após a limpeza com água deve deixar abertas as portas para uma perfeita secagem.

Uma das sugestões dos especialistas é carregar contêineres de café abaixo do convés dentro de porões, pois estão menores suscetíveis a mudanças bruscas de temperaturas, sendo que internamente existe a ventilação natural ou mecânica (forçada) pelo sistema de ventilação do navio.

Na prática o que se verifica que normalmente o café geralmente é carregado em clima quente e segue para o norte do globo onde vamos encontrar climas frios, e no deslocamento o container vai resfriando, e consequentemente o ar úmido esfria, logo haverá formação de condensação nas paredes metálicas e internas do contêiner.

Nos períodos de inverno europeu, ocorrerá que a temperatura externa será inferior ao ponto de orvalho do ar dentro do contêiner.

Não podemos esquecer que o café é ensacado e armazenado em temperatura de verão, portanto suscetível a diversas mudanças de temperatura desde o estufamento e transporte, e caso seja molhado os grãos estarão propensos ao crescimento de fungos, tornando o café impróprio para o consumo.

O procedimento usual no empilhamento da estufagem normalmente é feito em camadas sobrepostas, o que possibilita uma circulação de ar melhor.

Um dos artifícios para minimizar a condensação é o uso de dessecantes em forma de sachês, produto composto por sílica gel, que removem a umidade durante o transporte, entretanto a eficácia deste produto dependerá da quantidade de umidade retida dentro do contêiner, mas tem sido sua aplicação rotineira.

Com relação à estivagem a bordo de um contêiner contendo café, importante observar que uma estivagem no convés principalmente no alto da pilha estará mais sujeito às altas temperaturas do sol ou à baixa devido neve, o que na prática os estudiosos sugerem que a estivagem seja realizada dentro dos porões abaixo da linha d’água e longe do porão frontal à praça de máquinas.

No caso de transporte em contêineres reefers existe uma maior circulação de ventilação pelo piso que é formado por uma estrutura parecida com trilhos, porém todo cuidado deve ser dado quanto à questão do odor de cargas previamente transportadas.

Bibliografia

Apontamentos do autor

Knight, K.G., Lloyd’s Survey Handbook, 1985

https://www.cargohandbook.com/Coffee_Beans - Coffee Beans, 2024

https://www.freightcenter.com/shipping/ultimate-guide-to-shipping-coffee/, Ultimate Guide to shipping coffeeShipping Coffee, 2024

https://agenciagov.ebc.com.br/, 2024

https://drwakefield.com/news-and-views/the-dangers-of-shipping-coffee/ - The dangers of shipping coffee, 2024

  

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