Este episódio ocorrido denominado “carne fraca” a meu ver
trouxe não somente para o nosso país, mas para o globo em geral a necessidade
de ter uma preocupação maior com os alimentos de consumo interno como para os
de exportação, isto é como vem sendo manipulados, e quais as falhas que precisam
ser corrigidas, pois a segurança alimentar deve ser a preocupação de todos.
É notório que se não houver uma segurança na manipulação de
alimentos poderá haver os riscos de contrair alergias, e doenças que podem
culminar em até mortes, pela ingestão de produtos contaminados por bacterianos,
microbianos, produtos químicos, etc.
O ciclo de manipulação do campo até o fornecedor é muito
grande, os produtos passam por alimentação, abates, transportes, armazenamento,
industrialização, produção e comercialização, e para isto é necessário que
todos na cadeia cumpram as regras de segurança alimentar, e para isto é que são
criadas normas para evitar falta de higiene causando contaminação do produto,
uso de produtos para maquiar a cor e cheiro, e até adulterações em embalagens,
é o que estamos presenciando nesse momento circulando na mídia, com relação à
carne.
È regra internacional que os alimentos pré-embalados devem
ser rotulados com base em normas legais, administrativas e técnicas, o que
normalmente é estampada, ou seja, escrita, através de impressão ou mesmo
graficamente, e apresentada em forma de etiqueta dados de identificação,
qualidade, etc.
A minha experiência em transporte de produtos em porões e em
containers carregando produtos alimentares, me leva a escrever este artigo,
pois acho que a conscientização é a principal medida que se deve trabalhar em
todo o mundo empresarial para obter uma legítima segurança alimentar.
Todos sabem que porões de navios e containers reefer
transportam diversos tipos de produtos e são de alto risco para gerar
contaminações, pois nem sempre, eu diria melhor eu não acredito que haja uma
garantia de limpeza 100%.
Transportávamos carne para o oriente e antes tinha a
recomendação de lavagem do porão ou de container com determinados produtos
químicos, mas o que sempre presenciei que nem sempre os interiores ficavam
totalmente limpos, não somente os porões de navios como os dos containers
existem na própria estrutura locais de difícil acesso que um jato d’água ou
vapor possa desobstruir uma incrustação de resíduos de cargas anteriores, o que
a meu ver é um grande risco de contaminação.
Outro aspecto de risco são os sistemas de ventilação, ou
seja, os dutos de ventilação e recirculação não são limpos por ficarem internos
na própria estrutura do porão ou no sistema refrigeração do container.
Outro ponto que deve ser observado é quanto ao período de
estocagem quando o produto fica sob-refrigeração, e todos sabemos que sempre
haverá os riscos de uma interrupção de energia que vai paralisar os
compressores, bem como é notório que muitos terminais fazem rodízio de
containers, porque a carga de energia não atende a demanda da quantidade de
containers estocados no pátio, como também nos navios, os geradores podem
apresentar problemas e pararem de funcionar e paralisando a refrigeração. Já
vivenciei em uma viagem que tivemos problemas com um dos geradores, e o sistema
de refrigeração ficou paralisado alguns dias.
Visitei diversos armazéns frigoríficos que adotavam regras na
vestimenta, na lavagem de botas, luvas e outras limpezas dos funcionários antes
do acesso a câmaras frigoríficas, mas com relação a equipamentos sempre notei
que não havia grandes preocupações como aquelas esteiras transportadoras com
roletes que ajudam no transporte das caixas até o interior do container,
empilhadeiras circulando no armazenamento de pallets nas prateleiras, e outros equipamentos sem passarem por uma desinfecção
antes de acessar e manipular produtos.
Outra observação é quanto as japona frigorífica (vestimenta
de proteção indicada para temperaturas muito baixas) para serem usadas em
interior de câmaras frias, de resfriamento e congelamento, que nem sempre são
de uso pessoal, ficam a disposição de todos, o que pode comprometer o ambiente
interno através de bactérias, pois são usadas em alguns casos em cima de
vestuários comuns.
Acredito que tudo deve ser iniciado por uma política e
educação como base para se conseguir chegar a padrões internacionais, e por
outro lado promover programas de educação para os consumidores, que deve ser
iniciado no princípio da formação escolar, para atingir o que se precisa para
uma segurança alimentar.
Existem prazos para que alimentos como a carne para que fique
em um compartimento, pois o tempo se ultrapassar a regra de conservação poderá
também deteriorar o produto, pois o que entendo, é que as temperaturas a menos
graus centígrados podem retardar o crescimento bacteriano, mas não evitar a sua
formação e evolução.
É importante nesses recipientes de transporte de cargas que
sejam adotados e praticados a estivagem dentro dos limites e mantendo
corredores de ventilação para manter o arrefecimento (esfriamento, resfriamento)
ou refrigeração de forma adequada, e para isto existem marcas internas nas
paredes dos containers e porões de carga delimitando estas áreas.
Para
garantir a segurança alimentar, quando se fala em carne, é necessário e requer
a devida atenção do gado desde a sua alimentação, abate, transporte,
processamento, armazenamento e na preparação para a mesa dos consumidores.
No processamento e armazenamento é fundamental não só em
manter os alimentos lavados com água potável e mantê-los em temperaturas
seguras dentro das normas, sempre evitando mudanças e fraudes em informações.
Entendo que numa cadeia de produção nunca haverá somente
pontos positivos que atingirá a qualidade que a carne necessita até chegar ao
consumidor, como uma origem confiável, cor característica e sabor natural, mas
por outro lado poderá haver deterioração visível que muitas vezes é percebível
pela descoloração e odores, sujeira com corpos estranhos, etc., o que ficamos
surpresos rotineiramente com a divulgação na mídia e que surpreende com
notícias de que alguma indústria vem maquiando as carnes contaminadas com
disfarces de produtos com temperos ou outras especiarias.
Até etiquetas de garantia e qualidade dos órgãos
governamentais são trocados, adulterados e falsificados.
São falhas no sistema que os governantes devem se preocupar e
evitar repetições.
Infelizmente hoje em dia o ser humano tem que fazer uso dos
seus órgãos sensoriais como nariz, olhos e boca para perceber se a carne está
dentro de um padrão para o consumo. Tenho visto muitas vezes carnes embaladas
em saco de plásticos nas prateleiras de supermercados sendo cheiradas por
pretensos compradores.
Aprendi desde cedo a olhar dentro das bocas dos peixes para
verificar a cor das brânquias ou gueiras (vulgarmente denominadas de guelras)
que são os órgãos de respiração dos peixes, um método antigo, que se evita
comprar um peixe que está com suspeita, fora e não apto (estragado) para o
consumo humano.
Outra regra
comum é avaliar se a carne do peixe está firme, dura, e as escamas bem fixadas,
bem como os olhos brilhantes também e um bom sinal que está apto para o
consumo.
Com a carne
é mais difícil de verificar, eu diria que a comprada no açougue tem mais chance
de ser analisada do que a empacotada do supermercado.
Vivenciei muitos casos de “genset” que chegavam em containers
reefer de locais muito longe, e que chegavam nos terminais apresentando
problemas, ou seja, por conseguinte, não havendo a devida refrigeração da carga
no transporte.
O “genset” é um gerador elétrico móvel, geralmente movido a
óleo diesel, utilizado para acoplar nos containers reefer como fonte de
alimentação constante de refrigeração.
Por outro lado o que presenciei muitas vezes é tirado a
temperatura das carnes antes da estufagem em containers, através de
equipamentos e instrumentos, mas tenho dúvidas sobre testes microbiológicos, se
são feitos antes da estufagem, pois muitas vezes, carnes são transportadas em
caminhões de matadouros / abatedouros diretamente para armazéns, ou mesmo para
containers que acabam fazendo a descarga para armazéns frigoríficos e para
posterior reembarque em container para o transporte marítimo.
Especialistas em agropecuária fazem avaliação para verificar
a qualidade dos alimentos, através de medição das características do produto,
mas será que as carnes estão sendo estocada em ambientes sadios, sem contaminação,
esta também é uma boa pergunta.
Vi muitas vezes peritos emitirem certificados de limpeza
(cleaness condition certificate) sem se preocupar com as cargas transportadas
anteriormente, o que muitas vezes é omitida pelos transportadores.
Todos sabem que são transportados em porões e containers
carga químicas, como pesticidas, medicamentos, etc., que necessitam de
refrigeração, logo nesses casos a vigilância e a precaução devem ser muito
maiores para evitar uma contaminação.
Será que o plástico e o papelão para a embalagem passaram por
tratamento capaz de não causar uma contaminação, é uma pergunta que acho
difícil de ser respondida.
Reconheço que as propriedades físicas que são avaliadas pelos
instrumentos é que na verdade poderá dar uma legitimidade para o consumo de uma
carne, vindo a seguir avaliação da aparência.
Aprendi nos meus cursos que para assegurar a segurança
alimentar, é necessário apresentar toda a cadeia isenta de riscos, evitando tornar
a carne prejudicial para a saúde do consumidor.
Desta forma entendo que não é somente nas indústrias que
devem ser avaliadas a qualidade, mas também nos outros diversos seguimentos da
cadeia de produção, principalmente no transporte, onde a carne fica trancada em
um ambiente sujeito a variações de temperatura e ataques microbiológicos como
bactérias nocivas.
A manipulação dentro de normas e padrões de higiene é
necessária para evitar contaminações, o que muitas vezes percebi que a bordos
trabalhadores não usam medidas adequadas como em armazéns, não portam trajes
adequados, usam botas e luvas sem as devidas condições higiênicas, expondo os
produtos a condições inadequadas e que podem no fim da trajetória produtiva
provocar intoxicações nos consumidores.
É necessário que além de monitorar e controlar toda a cadeia
da indústria alimentar para evitar contaminantes químicos, microbiológicos e
físicos que também haja uma cultura preventiva, para que o comércio nacional e
internacional possa operar em suas transações de forma segura.
Vivemos um momento de surpresas, como no caso recente do
“recall” da carne, ou seja, uma ação tomada para remover alimentos que podem
apresentar riscos para as populações, e o que se vê hoje que os órgãos
governamentais tomaram medidas para que os fornecedores retirem a carne do
mercado. É uma ação emergencial na segurança alimentar que estamos vivenciando.
Procedimento que é feito pelo controle da rotulagem dos pacotes da carne.
Existem sistemas e organismos internacionais que ficam
responsáveis em prestar informações em todo o globo terrestre sobre a
necessidade de retirar do mercado produtos contaminados.
Um episódio desta envergadura onde países interromperam a
importação de carne do Brasil é uma tragédia, pois toda a cadeia alimentar
estará sofrendo suas consequências.
Na mídia
circulou uso de produtos químicos usados como corantes ou conservantes isto é muito grave, e as autoridades pelo que
tenho acompanhado estão fazendo as devidas investigações e análises
laboratoriais.
Mas fica aquela pergunta, se foram usados produtos químicos
na carne e os seres humanos consumiram, quais serão os riscos? E as
consequências em longo prazo?
Entendo que
é uma prática ilegal maquiar uma carne de consumo humano, e precisa ser apurada
pelas autoridades.
Outro fato que circulou na mídia é que foram encontrados
agentes patogênicos como a salmonela, o que entendo que se trata de uma falha
na higiene da manipulação do alimento.
A Salmonela é transmitida ao homem através de ingestão de
alimentos contaminados com fezes animais, se ficarem comprovado pelas autoridades,
houve uma falha no sistema, esta bactéria poderá causar intoxicações nos serem
humanos.
O que se vê na prática do transporte internacional que são
usados tipos de plásticos para o manuseio e armazenamento, e evitar
contaminações como a da salmonela o que é de suma importância para a vida útil
da carne, agora se são seguros, existem afirmativas pós e contras, dependerá do
material de fabricação e como é manipulado.
Tudo o que se vê com este fatídico episódio que comprometeu o
Comércio Exterior brasileiro, são consequências que servirão da alerta para as
autoridades de que segurança alimentar deve ser praticada em todos os
seguimentos da cadeia alimentar, evitando contaminação da carne, e devem ser
revistos os padrões de manuseio e regulamentações, para que sejam evitado
migração de certas bactérias causadoras de doenças ou outros agentes
patogênicos que possam vir causar a famosa intoxicação alimentar ou mesmo
doenças mais graves como o câncer.
A segurança alimentar também deve ser fiscalizada no transporte
terrestre, armazenamento em pátios de terminais portuários e armazéns
frigoríficos e nos containers e porões de navios frigoríficos, mas sempre
pensando que o ser humano deve ter a sua responsabilidade em cada seguimento,
não fugindo às regras do bom senso e conduta em todas as atividades que são
manipulados alimentos.
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