FADIGA DO HOMEM DO MAR

Somente quem já navegou e enfrentou as adversidades do mar e da convivência a bordo de navios, tem a condição real de caracterizar o que é uma verdadeira fadiga.

Definida como um estado de desgaste devido a um esforço físico ou mental, eu diria que as condições ambientais da vida em um navio, devido às adversidades anormais enfrentadas no dia-a-dia em uma aventura marítima, é que levam a uma fadiga.

Abaixo vou enumerar algumas situações para reflexão:

Fatores Físicos: São as condições ambientais do trabalho, jornadas prolongadas com excesso de trabalho sem o devido descanso, bem como posturas adversas durante balanço e enfretamento a situações incomodativas. Exemplos:

Desconforto sonoro, ruídos de equipamentos e maquinário,

Trepidação dos motores e maquinário,

Movimentos devido às ondas em forma de movimentos 3 lineares (suspensão, saltar e oscilação) e 3 rotacionais (balanço, arfagem e guinar),

Variações rápidas da pressão atmosférica,

Desconforto térmico em navegar nos dois hemisférios com mudanças de calor e frio,

Luzes de equipamentos insatisfatórias ou em excesso,

Desconforto pela fumaça da chaminé e odores de cargas,

Atendendo serviços repetitivos de vigilância, serviços de quarto, e atuando em constantes manobras de atracação, desatracação, fundeio e suspender muitas vezes sem o descanso necessário,

Atuando em serviços durante as operações de carga e descarga nos portos, policiando o trabalho dos estivadores.

Fatores Emocionais

Distanciamento social, distância dos familiares,

Falta de contato com os familiares,

Notícias de ocorrências na família, como morte ou doença,

À disposição 24 horas para qualquer emergência,

Convivendo com superiores tóxicos, ou sem planejamento do tempo e das tarefas,

Ambiente de trabalho estressante, convivendo em relacionamentos com colegas insatisfeitos ou indisciplinados,

Fatores Cognitivos: ocorrência de desequilíbrio gerando exaustão de atenção, concentração, raciocínio e foco.

Vigilância sonora ou auditiva, durante forte nevoeiro com visibilidade restrita, utilizando equipamentos como radar e AIS,

Concentração na interpretação e execução de operação de manobra para evitar abalroamento ou colisão,

Raciocínio rápido pára evitar um acidente durante uma manobra em área de muitas embarcações circulando,

Concentração nas ordens do Prático durante as manobras de entrada e saída dos portos,

Tensão ao enfrentar tempestades: furacões, tornados, nevascas e tempestades de gelo e granizo,

Estes fenômenos aos quais, todos trabalhadores no mar estão sujeitos, é que vai gerar cansaço físico e mental, que vai causar diminuição da capacidade de trabalhar e reduzir as suas capacidades de operar equipamentos e máquinas em suas atividades de serviço de quarto, manobras de fundeio, suspender, atracação e desatracação.

Com relação à fadiga mental temos a síndrome de esgotamento profissional (burnout) que provoca uma sensação de exaustão ou esgotamento, que entendo ser uma resposta prolongada a estímulos emocionais que são enfrentados a bordo em serviço no mar. Frente a todas essas situações é que muitos profissionais perdem o interesse pela profissão.