A IMPORTÂNCIA DA ARQUEAÇÃO (DRAFT SURVEY) PARA O TRANSPORTE
DE GRANEIS
A – INTRODUÇÃO - DRAFT SURVEY (arqueação): É uma
ferramenta de apuração de quantidades de graneis que embarcam em um navio,
aplicado tanto no transporte de graneis sólidos ou líquidos, nada mais é que
uma planilha de cálculo, no qual é preenchida e calculada antes, ou durante, e
no final do embarque, bem como antes da descarga do granel. É uma ferramenta de
defesa, que pode ser tomada como prova para ambas as partes, seja embarcador,
transportador e recebedor. Os valores calculados servem para confrontar com o
valor pesado no terminal do embarque e desembarque, para confrontar com os
pesos lançados no conhecimento de embarque. É uma prova que pode ser conclusiva
no momento de descarga. A vistoria pode ser solicitada previamente antes do
embarque para uma apuração de divergências entre balança e cálculo. É um
cálculo bastante complexo, pois envolve muito conhecimento dos posicionamentos
dos compartimentos do navio, plano de arranjo geral, caderno de estabilidade e tabela
hidrostática. A importância a meu ver trata-se de uma prova para eventual
defesa de uma reclamação (claim). Não é um cálculo exato, eu diria que não se
trata de uma ciência exata o cálculo, pois envolve inclusive condições
meteorológicas e oceanográficas. Na regra internacional considera-se como precisão
de uma vistoria caso alcance no confronto balança-cálculo uma diferença de
aproximadamente 0,5% (meio) por cento do final para carga de granel sólido
declarada pelo terminal, pois é difícil de afirmar que é uma discrepância
normal ou habitual, pois depende das circunstâncias do momento que foi
calculada por meio do draft survey, e o que no caso das quantidades divergirem
atingindo um valor superior recomenda-se que o conhecimento de carga seja
clausulado. É comum, em caso de divergência superior ocorram certas decisões,
que serão definidas, o que no final deste texto será explicado. Sempre
encontraremos diferença entre os cálculos e a balança, visto que dependerá no
caso da balança de sua sensibilidade e sua calibragem realizada pelo Inmetro, e
com relação ao cálculo de arqueação das precisões de aplicação das correções
frente às imprecisões de informações, que são utilizadas durante a apuração do
peso. A seguir apresentarei um exemplo com as diversas etapas do cálculo,
entretanto quanto ao cálculo entendo que pode ser garantidor de uma solução em
eventual disputa de quantidade embarcada.
Desta forma é importante apresentar uma análise de como é realizado o
cálculo, e até que ponto erros superiores ao suportado poderão acarretar, e
gerar conflitos numa emissão de conhecimento, bem como indicar
responsabilidades.
Erros podem ocorrer com balanças, seja ela balança
rodoviária, ou de fluxo, como exemplo, não certificadas por órgãos
especializados, onde normalmente são colocados selos ou lacres, após passarem
por calibragem e atestado da sua qualidade de pesagem. É importante observar
que as etapas de pesagem em terra e o draft calculado a bordo possam gerar ou
tirar dúvidas quanto à quantidade embarcada, bem como o armador terá a defesa
para alguma eventual reclamação feita na descarga pelo consignatário, visto que
a quantidade embarcada estará lançada normalmente no Conhecimento de Embarque
(B/L).
É notório que do silo, moinho, armazém ou pátio, bem como
tanques de armazenamento onde se encontra o granel líquido ao passar pela
balança sempre ocorrerá uma perda devido vazamentos da esteira/correia
transportadora e se for embarque por grabs haverá derrames, ou seja, por menor
que seja a perda vai ser uma diferença no confronto com o cálculo. Pelo outro
lado se o cálculo não for realizado com extrema competência e aplicando da
melhor forma as regras na elaboração poderão resultar em grandes diferenças.
O Vistoriador ao calcular o peso do navio em condição de
carga total terá que checar o calado, usar densidade dos líquidos no local de
atracação (água do mar/rio/lagoa etc), determinar o deslocamento do navio e
diminuindo os combustíveis, resíduos encontrados de líquidos, constantes, e
peso leve, daí vai encontrar o peso da carga embarcada. Desta forma o peso da
carga será o deslocamento navio carregado menos deslocamento navio vazio.
B - FATORES A SEREM
OBSERVADOS DURANTE A VISTORIA
A precisão do calculo de quantificação de um granel estará
sempre de encontro com diversos fatores, pois nós todos sabemos que um navio
flutua num meio líquido, é flexível e o seu casco reage a diferentes forças
externas, vejamos:
1º) VISTORIA CONJUNTA
(JOINT SURVEY) - As
vistorias de sondagem de tanques de lastro e de combustíveis devem ser
realizadas juntamente com oficiais do navio, podendo ocorrer que as partes
também nomeiem um vistoriador para o acompanhamento, inclusive representante da
SRF.
2º) PESO LEVE (NAVIO VAZIO)
(Light Ship): após a
construção no estaleiro são realizados cálculos nos navios para apuração do
peso leve do navio, entretanto este peso não é estático, mas dinâmico, pois
alterações em sua estrutura vão ocorrendo durante sua vida útil de navegação, como
exemplo acumulo de sedimentos de óleo e lama nos tanques, sobressalentes, reparos,
materiais, camadas adicionais de tintas em sua estrutura, que vão se formando,
o que altera o peso leve. A recomendação da maioria dos vistoriadores é que
verifiquem com o Imediato do navio, quais foram os pesos leves encontrados nos
últimos carregamentos, o que vai auxiliar na precisão do cálculo, e estimar uma
média e confrontar com o peso leve declarado nas características apresentadas
pelo estaleiro construtor.
3º) CONHECIMENTOS DOS
PRINCÍPIOS HIDROSTÁTICOS: é importante ter conhecimento dos planos e tabelas de bordo que vão
fornecer os dados necessários para elaboração do cálculo justo e preciso. O
vistoriador deve ser capaz de saber utilizar não somente tabelas, mas também
curvas hidrostáticas.
4º) PRECISÃO NA LEITURA DOS CALADOS: o vistoriador precisa ter uma boa
visão para poder detectar o momento certo para a leitura, pois em qualquer
local atracado, as águas sempre apresentarão marolas, bem como saber interpretar
as marcas de calado, seja em pés ou metros.
5º) CONHECER A
DISTRIBUIÇÃO DOS TANQUES DE LASTRO E COMBUSTÍVEIS: é importante que antes de iniciar
qualquer sondagem, tenha uma noção da distribuição dos tanques a bordo, para
isto sugiro consultar o plano de arranjo geral, para verificar a quantidade de
tanques e o posicionamento a bordo, pois no cálculo devem ser considerados
todos os tanques de lastro, água doce e combustível. Na prática é difícil que o
vistoriador consiga sondar todos os tanques, sempre haverá pressão de bordo e
má vontade, principalmente se houver alguma irregularidade, o que entendo que a
falta de sondagem de todos os tanques pode acarretar erros e dúvidas. Outro
motivo é a pressa em iniciar o carregamento, que gera a pressão, o que pode
levar a erros, tudo devido à falta de um planejamento das partes envolvidas.
6º) PREPARAÇÃO PARA A
SONDAGEM DOS TANQUES:
é importante antes da sondagem dos tanques terem acesso à TABELA de sondagens
dos tanques, onde é importante fazer anotações não somente dos tanques, mas
também das alturas das sondas, pois ao realizar uma sondagem ou tirar uma
ullage, verificar se existe alguma irregularidade. Importante levar para a
sondagem as alturas das sondas, pois podem ocorrer de algum tubo de sondagem ter
dentro algum objeto como o prumo da trena que partiu, ou mesmo algum artifício
para causar erros.
7º) CONFIABILIDADE EM
INFORMAÇÕES: as
informações do pessoal a bordo devem ser respeitadas, porém fica a critério se
vão ser levadas em consideração ou não, por isso é importante conhecer a
distribuição dos tanques antes de fazer a sondagem. Aceitar valores informados
pelo staff de bordo é arriscado.
8º) BANDA DA EMBARCAÇÃO
(LIST): é importante
observar que um navio adernado (list) não produzirá uma sondagem correta, apesar
de que já existem correções ou pode-se corrigir através de fórmulas, mas o
importante é solicitar que equilibrem o navio, sendo que o CLINÔMETRO mais
confiável é o que fica na praça de máquinas fixado avante do motor principal
(MCP), que é posicionado no estaleiro para alinhamentos de cilindro e eixos. O
que fica no passadiço pode ser usado também, fica a critério de cada
vistoriador. Só deve iniciar a sondagem com o navio aprumado sem banda.
9º) TRENA METÁLICA DE
PROFUNDIDADE: é a
ferramenta para a medição dos líquidos, para isto, é necessário verificar se
está correta sem emendas, inclusive verificando o PRUMO se está alinhado com as
medidas da fita metálica.
10º) PASTA D’ÁGUA: para obter um valor de sondagem
perfeito, é necessário uso da pasta d’água.
11º) HORA MELHOR PARA A
LEITURA DE CALADOS:
nem sempre ocorrerá um momento, que seja considerado ideal para a leitura, pois
o navio quer esteja num rio abrigado de ondas do mar, mas estará sofrendo
influencia de correntes. Quando ocorre da atracação estiver sujeita a
influência de marés, o ideal seria no período do estofo, ou seja, a maré
parada, porém no caso de maré baixa é bom observar se há espaço abaixo da
quilha, caso esteja tocando o fundo, haverá erro, sem condições de leitura. É
importante observar que no caso de maré de vazante ou enchente, haverá uma
intensidade de água, fazendo que a incidência atue sobre o casco alterando o
trim ou inclinação causando banda, ou mesmo provocando agachamento do casco. É
importante saber sobre a maré para não ter surpresas na hora da leitura. Estes
efeitos são mais fáceis de ocorrer quando o navio se encontrar em águas rasas,
onde numa baixa-mar posicionando próximo ao fundo.
12ª) NAVIO É UMA VIGA
ELÁSTICA: O navio é
uma viga elástica, sofre deflexões em seu casco, e está sujeito a concentrações
de pesos ao longo do seu comprimento, logo é necessário ao terminar de fazer a
leitura de calado, interpretar as condições de esforços ao qual está flutuando
no meio líquido.
Vejamos um exemplo: Foram feitas as leituras resultando nos
seguintes calados aparentes:
AV: 30´ 00”, AR: 32´
00”, MNBB: 31’ 02”, MNBE: 31’ 04”, desta
forma verificamos:
Calado médio AV/AR: (30’ + 32’)/2: 31’
Calado médio MN: (31’ 02” + 31’ 04”)/2: 31’ 03”
Observar-se que o calado médio a MN (meia nau) é maior do que
o calado entre proa e popa (AV e AR), portanto o navio encontra-se com os pesos
concentrados em maior quantidade no centro (MN), logo o navio encontra-se na
condição de contra-alquebramento, SAGGING (tosamento), ou seja, os calados AV e
AR tiveram alterações para cima, pois a popa e proa subiram. Devido às estas
deformações, desta forma é necessário fazerem correções, o que veremos a
seguir.
C - CÁLCULOS E FATORES DE CORREÇÕES
No cálculo é importante levar em conta todos os fatores que
podem afetar a precisão das leituras de calados, e na apuração de valores das
tabelas e condições como se encontra o navio, pois trata de avaliar uma
estimativa de peso, vejamos:
1º) EQUILÍBRIO
LONGITUDINAL DO NAVIO NAS ÁGUAS: um navio abicado (calado a ré menor do que a vante) vai
gerar erros, ou seja, quanto mais estiver em equilíbrio, com calados próximos a
vante e a ré melhor será o momento de precisão nos cálculos de quantidades de
líquidos. O mesmo deve ser levado em conta quando o navio estiver muito
derrabado (calado a ré maior do que avante), sendo que nas tabelas existem
limites de correções para o TRIM. Trim é o caimento ou compasso, ou seja, é a
inclinação longitudinal de um navio para uma de suas extremidades proa ou popa.
2º) DENSIDADE DA ÁGUA: no local que o navio estiver
atracado, a água pode passar por densidades diferentes, caso atraque próximo de
uma descarga de águas pluviais ou de esgoto, ou mudança de marés, vai haver
mudanças na salinidade da água, é bom observar em qual situação está sendo
feita a leitura de calados, para isto, sugiro consultar a tábua de marés aplicada
para o porto e verificar a situação no cais onde estiver atracado. Ter um
densimetro calibrado seja metálico ou de vidro, bem como termômetro, é
importante, e devem ser feitas leituras em amostragem pelo menos em três pontos
proa, meia nau e popa, de preferência no lado de mar, ou seja, contrário ao
bordo de atracação. Para uma precisão maior é necessário conhecer a temperatura
da água, se não for tirada através de termômetros durante a tiragem da
amostragem, poderá utilizar a temperatura que a praça de máquinas obtém durante
o processo de refrigeração de motores e bombas. Estas leituras sempre devem ser
feitas no momento das leituras de calado, devido ao fluxo ou refluxo da maré.
Utiliza-se de um balde, mergulha no leito do rio ou do mar afundando para a
captação da água sobre a quilha, o que na prática estima até a metade do calado
observado na leitura. É importante fazer a leitura no nível da água do balde,
para evitar erro de paralaxe.
3º) LEITURA DE CALADOS: mesmo o navio estando sem banda, é
necessário fazer a leitura a bombordo e boreste, proa, meia nau e na popa,
quando aplicando a equação matemática obtém o calado médio, que poderá ser em
metros/centímetros ou pés/polegadas. O ideal é que o navio esteja em águas
calmas e paradas, caso ocorrem marolas, poderão ocorrer erros na leitura, o que
nem sempre o navio atraca em berços ou ancoradouros sem influência de ondas,
quando a superfície movimentando o navio vai balançar e inclinar-se, pois o
primeiro cálculo é com o navio leve, logo mais sujeito a balanços. Existe uma
regra prática que nos informa que normalmente a marola ao chocar com o casco
ela é crescente e decrescente e dá uma parada, e nesse caso é o momento mais
certo de fazer a leitura, mas para conferência verifica-se o valor maior e
menor e tira a média para confrontar com a medida da para e verificar se está
próximo da média.
4º) ERRO DE PARALAXE
(ÂNGULO DE OBSERVAÇÃO):
em navios cuja estrutura seja grande e alta, como no caso de navios tanques,
ore-oil, graneleiros panamax, entre outros, é importante executar a leitura do
lado de mar através de uma embarcação para evitar desvio ótico por ocasião da
leitura, causado pelo ângulo de visão do observador, isto ocorre muito quando é
feito do convés, ou mesmo descendo por uma escada de quebra-peito. Quanto mais
próximo estiver o vistoriador da linha d’água, mais segura é a leitura correta.
5º) MARCAS DE CALADO
COM FALHAS OU FALTANDO: quando isto ocorre à meia nau, o que se pode fazer é utilizar do meio
da linha da borda do convés até a linha d’água, com referência às linhas de
carga que se encontram nos cadernos de estabilidade, proa e popa não devem ser
aceitas devido às curvaturas, ou quando observar que não se tratam de marcas
originais.
6º) LEITORES
ELETRÔNICOS DE CALADO:
a modernidade apresenta esta opção, mas o que ocorre que o navio está sujeito
ao contato com água do mar e diversos tipos de poluição, o que pode alterar a
sua integridade, causando erros. Entendo que não seja recomendável uso deste
equipamento, num cálculo que deve ser o melhor possível isento de erros.
Existem equipamentos de sistemas automatizados com sensores e câmera em estudos,
o que quem sabe futuramente poderá ser aplicado com mais certeza nos cálculos.
7º) PLANEJAMENTO PARA O
CALCULO DE LASTRO:
obtido o trim do navio, é necessário ter acesso ao Ballast Water Arrangement
Plan, onde você encontra os seguintes dados: tank nº, Max sounding, Actual
sounding, trim, actual volume, volume % e Specific Gravity. Com as sondagens
tiradas dos tanques de lastro, criar uma tabela, onde vai lançar o número do
tanque, a sondagem, o volume encontrado para o trim e a densidade.
8º) SONDAGEM DOS
TANQUES DE LASTRO:
acreditar ou desacreditar em uma vistoria de draft survey, não se deve pensar
nestas hipóteses, devem ser feitas as sondagens de todos os tanques, mesmos
aqueles informados pelo staff de bordo como estando vazios. Os tanques
elevados, de duplo fundo e o pique tanque a vante, são corriqueiramente
utilizados para lastrear o navio quando o mesmo se encontra vazio, e poderá
conter resíduos que farão diferença no cálculo. Sempre utilizar pasta d’água
para se ter uma leitura mais precisa.
9º) DENSIDADE DA ÁGUA DE
LASTRO: este é o
grande enigma, o que a meu ver dará chance para erros no calculo inicial, pois
o navio chega ao porto lastrado e durante o carregamento vai deslastrando, mas
é importante consultar o comandante em qual situação foi efetuado o lastro, se foi
em alto mar ou durante o fundeio a espera da atracação, se foi no porto que desatracou
após a última carga, para se ter uma melhor apuração de qual densidade poderá
ser utilizada para aplicação no volume para se obter o peso. A prática nos
ensina em caso de dúvidas checarem verificando amostras dos tanques elevados,
onde o acesso é feito por agulheiros e é fácil colher amostragem. No caso de
ser informado que foi em mar aberto considera a densidade de água do mar
(1025). Em caso de ter algum tanque parcialmente cheio, é o mais recomendado
para colher amostragem. Não podemos esquecer que volume = massa / densidade.
Muitos casos ocorrem de navios estarem lastrados e durante o embarque vão
deslastrando, o que pode gerar discrepâncias nos cálculos.
10º) CÁLCULO DO VOLUME
E PESO DO LASTRO:
utilizando a leitura do tanque, aplicando o trim, obtém o volume, e, portanto
utilizando da densidade, acha-se o peso. Neste momento é importante verificar
se a tabela é original, se está com carimbo e assinatura da Sociedade
Classificadora, bem como se tem o nome correto do navio onde está sendo feito o
cálculo. Se houver correções devem ser aplicadas.
Exemplo: Sondagem do tank 1 DBT= 19,00 m Trim: 1 m
Volume: 1200 m³
Densidade água do mar: 1.025 (nesse Caso o lastro ocorreu em
alto mar)
Peso (wiight) = Volume x S.G = 1200 x 1.025 = 1230 mt.
11º) CÁLCULO DO VOLUME
E PESO DA ÁGUA DOCE (CONSUMO DE BORDO)
Efetuada a sondagem dos tanques o cálculo é o mesmo para
Fresh Water (água doce), sendo que aplica a densidade (S.G) de 1.000.
Exemplo: FWT PORT: sondagem 2.70 m, trim = 1 m, volume: 45 m³
Peso: 45 x 1 = 45 mt.
12º) CÁLCULOS DOS
VOLUMES E PESOS DOS ÓLEOS COMBUSTÍVEIS: após a sondagem e verificado as sondagens dos tanques de
maior capacidade que são os de óleo pesado e Diesel, sendo que dos tanques
menores em sua maioria de óleo Diesel, que são tanques elevados, onde são
verificados diretamente o volume, entretanto no caso dos lubrificantes verifica
diretamente os volumes nos leitores dos tanques, pois são tanques pequenos e também
dever verificar as unidades de tambores, onde se calcula por unidades. A grande questão dos cálculos é quanto às diversas
qualidades de óleo pesado que fiquem em tanques do fundo-duplo, pois o navio
pode ter abastecido em diversos portos, e ficará difícil de efetuar os
cálculos. Os cálculos de óleos devem ser calculados para metric tons (MT), porque
a bordo estes tanques passam por mudança de temperatura. A fórmula a ser
aplicada é: Massa = Volume / Densidade, ou seja, massa (MT) = Volume m³ /
Densidade (tons/m³). A densidade aplicada passa a ser chamada de densidade
corrigida, pois a mesma passa por mudanças de temperaturas, onde teoricamente a
temperatura é a do tanque onde está armazenado o óleo. Para a aplicação
consideramos 1 MT = 1000 Kg. Importante observar que ao receber o óleo na nota
de entrega (bunker debit note – BDN) consta a densidade do óleo para 15ºC, por
conseguinte por ocasião da sondagem do óleo, que se encontra no tanque existe outra
temperatura, o que para tal precisa ser corrigida. Entra na tabela para
corrigir o valor para o TRIM que o navio apresenta no momento, após a leitura
dos calados. Não se esquecer de verificar também os tanques de serviço e de
decantação
13)
CORREÇÃO DA DENSIDADE DO ÓLEO
Densidade corrigida na temperatura t1 = Densidade do óleo
combustível a 15 graus Celsius * [1- {t1-15)*0,00064}]
A densidade do óleo combustível a 15 graus Celsius é mencionada
nas notas de entrega do bunker (BDN).
T1 representa a temperatura de óleo no tanque de combustível
em graus Celsius.
0,00064 na fórmula é o fator de correção do bunker.
Volume de óleo é fornecido em m³
Quando se tratar de mistura de densidades deve ser feita uma
interpolação para obter a média.
Vejamos um exemplo prático:
Em um tanque de óleo pesado foi feita a
sondagem e encontrado 4,90 m, considerando que o navio estava com o trim de 0,5
metros, e a temperatura do óleo era de 30ºC. Entrando com a sondagem
encontramos um volume de 250,40 m³ de óleo pesado.
A partir daí, temos que corrigir a
densidade e aplicando a fórmula
0.9909[ 1- { t1-15)*0.00064}]
Considerando que a densidade do óleo para
15ºC é igual a 0.9909 e a temperatura 30ºC, temos:
0.9909 [ 1 – (30 – 15) x 0.00064
0,9909 [1- (15x0.00064)]
0.9909 [ 1 – 0.0096] = 0.9909 x 0.9904 = 0.9811
Densidade corrigida= 0.9811
Desta forma calculamos o peso: Massa = volume x densidade
= 250,40 x 0.9811 = 245,67 mt. (metric tons)
14º) CALCULO DO CALADO
MÉDIO APARENTE.
Trata-se de uma média aritmética, vejamos exemplo:
FP – avante bombordo
/ FS – avante boreste /
FM – avante médio
AP – a ré bombordo /
AS – a ré boreste / AM – a ré médio
MNP – meia nau bombordo
/ MNS – meia nau boreste / MNM –
meia nau médio
DETERMINAÇÃO DO CALADO MÉDIO APARENTE
Calado aparente é o calado observado (lido) na linha d’água.
CALADO MÉDIO PROA/POPA (CMPP): {(FP + FS)/2 + (AP + AS)/2}/2
= (FM + AM)/2
CALADO MÉDIO A MEIA NAU (MNM) : (MNP+MNS)/2 = MNM/2
CALADO MÉDIO ENCONTRADO: (CMPP + MNM)/2
Exemplo: Navio comprimento entre perpendiculares (LPP) 545
pés, e apresentando a densidade do porto de 1.018 t/m³, apresentou as seguintes
leituras de calado:
Proa BB= 16 pés / Proa BE = 18 pés = Proa Médio: 17 pés
Popa BB= 22 pés / Popa BE = 20 pés = Popa Médio: 21 pés
MN BB = 19 pés / MN BE = 21 pés = MN Médio: 20 pés
15º) DETERMINAÇÃO DO
TRIM APARENTE
Aparente trim: Calado popa – calado proa = 21 – 17 = 4 pés (encontra-se derrabado)
16º) DETERMINAÇÃO DO
CALADO MÉDIO APARENTE:
(PROA MÉDIO + POPA MEDIO + 6 X MN MÉDIO)/8
CALADO MÉDIO: (17 + 21 + 6 X 20)/8 = 158/8 = 19.75 pés
17º) CORREÇÃO DO
CALADO / CORREÇÃO PERPENDICULAR
Distâncias da marcas até perpendicular são tiradas do caderno
de estabilidade, vejamos o exemplo:
Proa: 8,90 pés avante
meia nau: 4,39 pés avante
Popa: 22 pés a ré
Distância entre as marcas de calado av/ar(LBM)= 536,55 – 8,90
– 22 = 505.65
LBM = 505.65
18º) CORREÇÃO MARCAS: (DISTÂNCIA ENTRE PERPENDICULARES x TRIM
APARENTE)/ COMPRIMENTO ENTRE AS MARCAS (LBM)
Correção avante: (aparente trim x distancia da marca avante)/distancia entre
as marcas = (4 x 8,90)/505.65 = -0,0704
Correção a meia nau: (4 x 4,39)/505.65 = -0,0347
Correção a ré: (4 x 22)/505.65 = +0,1740
19º) RESULTADO CALADOS REAIS (CORRIGIDOS): Aplicando as correções temos as
correções dos calados:
Calado avante: Calado avante – correção = 17 – 0,0704 = 16.9296
Calado a meia nau: Calado a MN – correção = 20 – 0,0347 = 19.9653
Calado a ré: Calado a ré – correção= 21 + 0,1740 = 21,1740
20º) DETERMINAÇÃO DO TRIM
CORRIGIDO:
AV 21.1740 – AR 16.9296 = 4.2444 pés
No caso acima os sinais ocorrem pela questão do navio se
encontrar derrabado.
21º) CALADO MÉDIO
CORRIGIDO (QUARTER MEAN DRAFT): (PROA MÉDIO + POPA MEDIO + 6 X MN MÉDIO)/8
CALADO MÉDIO CORRIGIDO: 16.0296 +
21.1740 + 6 x 19.9653 = 156.9954 / 8 = 19.6244
22º) CÁLCULO DO DESLOCAMENTO DO NAVIO:
Entra-se na tabela/curva hidrostática
para encontrar os valores abaixo:
TPI = toneladas por polegada de
imersão (tons per 1 inch immersion)
MTI =momento de imersão do trim de 1
polegada (moment to change trim 1 inch)
Calado Deslocamento TPI LCF MTI MTI
19 pés 18.500 mt 40,20 - 3,70 410
310
20 pés 19.300 mt 40,30 -3,40 415
315
LCF : Longitudinal Center of
Floatation – Centro de Flutuação
TPI : Tons per inch - Tonelada por
polegada de imersão
MTI : Moment to change Trim 1 inch
É importante observar para que não
haja erro no cálculo da arqueação, é observar corretamente nos planos de bordo
quanto ao posicionamento do LCF que é aplicado no primeiro cálculo.
No caso teremos que fazer
interpolação, entrando na curva / tabela hidrostática encontramos:
23) CORREÇÃO PARA O DESLOCAMENTO
Calculo do deslocamento para o calado
corrigido = 19,6244 pés
Para a interpolação usar a diferença
de escala de 1 pé (20-19)
[Deslocamento 19 pés + (deslocamento
20 pés – deslocamento 19 pés)]/ 1 pé x 0,6244 pés = 18.500 + (19.300-18.500)/1
x 0,6244 = 18.999,52 mt
24º) CORREÇÃO PARA O TPI
Calculo do TPI para o calado de
19,7254 pés:
{TPI 19 pés + (TPI 20 pés – TPI 10
pés)/1 x 0,6244 = {40,20 + (40,30-40,20)/1 x 0,6244= {40,20 + 0,0624} = 40,2624
tpi
25º) CORREÇÃO PARA O CENTRO DE FLUTUAÇÃO
Calculo LCF (centro de flutuação)
para calado de 19,6244:
{-370+(3,70-3,40)/1 x 0,6244} =
-3,70+ 0,873 = - 3,5127 avante de MN
Cálculo do MTI para +1 pé: 410 + (415-410)/1 x 0.6244 = 410 +
3,122 = 413,122
Calculo do MTI para – 1 pé: 310 + (315-310)/1 x 0.6244 = 310 +
3.122 = 313,122
A diferença entre os MTIs = 413.122 –
313.122 = 100
26º) APLICAÇÃO DA 1ª CORREÇÃO TRIM
1ª CORR: (TRIM A RÉ (INCH) X LCF CORR X TPI)/LPP = (4,2444 x -3,5127
x 40,2624)/ 545 = 600.28 / 545 = -1.10 tons
27º) APLICAÇÃO DA 2ª CORREÇÃO TRIM (CORREÇÃO DE NEMOTO)
CORR. = (TRIM² X difMTIs x 50) / LBP
O que encontramos nas tabelas
hidrostáticas é o LCF (centro longitudinal de flutuação) para as condições de
quilha sem esforços, ou seja, é o centro geométrico da área do plano de
flutuação. Havendo mudanças na área do plano de flutuação haverá mudança do
LCF, em conseqüência esta correção é para corrigir o deslocamento do LCF.
2ª CORR: (1 PÉ x dif MTI X TRI²)/LPP = (1X100X4.2444²)/545 =
1801.49/545 = 3.31 tons
Entrando no caderno de estabilidade para densidade de 1.025
encontra-se para o calado de 19,6244:
Deslocamento: 19.654,27 tons
1ª corr TRIM:
- 1,10 tons
2ª corr TRIM:
+ 3.31 tons
Deslocamento corrigido para água salgada: 19.656,48 tons
O navio encontrava-se em local com densidade de 1.018 t/m³
28º) CÁLCULO DO
DESLOCAMENTO PARA ÁGUA SALOBA
Deslocamento: (Deslocamento água salgada x 1.018)/1.025 =
Deslocamento = (19.656,48 x 1.018)/1.025
Deslocamento = 19.522,24 tons.
Observação: Dificilmente vamos encontrar a quilha uniforme,
sempre existirá uma deflexão do casco, o que pode aumentar ou diminuir as
correções, devido à mudança do LCF, e neste caso é necessária a aplicação da 2ª
Correção, conhecida como Correção de Nemoto, que será sempre positiva. É uma
correção que se aplica para cima ou para baixo do calado médio, que é o momento
de trimagem, que no caso do exemplo será o momento para alterar o trim em polegadas.
29º) CÁLCULO DO
DESLOCAMENTO LEVE (SOMATÓRIO PESOS) - Exemplo
Lastro residual (unpumpable ballast water) : 5 tons
Água doce (fresh water) : 12 tons
Óleo pesado (fuel oil) : 700 tons
Óleo Diesel (Diesel oil) : 100 tons
Óleo lubrificante (lubricating oil): 0.5 tons
Resíduos de tanques de óleos (bilge oily water/sludge): 3.5
tons
Constante (dunnage, lashing material, spare parts etc.): 5
tons
Navio leve (Light ship): 5.800
Total navio leve: 6.626 tons
30º) CARGA EMBARCADA / ENCONTRADA
Basta diminuir o peso navio leve do deslocamento encontrado.
19.522,24 tons. – 6.662 TONS = 12.896,24 TONS
31º) PERCENTUAL
ENCONTRADO DE DIFERENÇA BALANÇA X ARQUEAÇÃO
% = 100 - (Arqueação x 100)/ Balança : 0,80%
Se considerarmos que foi encontrado o valor pesado pelo
terminal de 13.000 tons temos: DIF = (13.000 - 12.896,24) = 103.76 tons
diferença (0,80%)
Este valor corresponde a 0.80%, o que estaria acima dos 0.5%
considerado como aceitável, conforme a prática, por não se tratar de valores
grandiosos.
32º) ATENÇÃO NA DIVERGÊNCIA
DE PESO MAIOR QUE 1%
É
importante observar a Instrução Normativa nº 28/1994 que em seu art. 27
instrui: A quantificação das mercadorias exportadas a granel consiste
na determinação do seu peso, expresso em quilogramas, e será feita mediante
pesagem, medição direta ou arqueação. Já no art. 49, §2º instrui: § 2º Nas
exportações de mercadoria a granel, o laudo ou certificado de mensuração
produzido nos termos do art. 27 terá precedência sobre os documentos de
embarque, para efeito de controle das quantidades embarcadas.
Segundo a Lei 10.833/2003, em seu art. 66
estabelece: As diferenças percentuais
de mercadoria a granel, apuradas em conferência física nos despachos
aduaneiros, não serão consideradas para efeito de exigência dos impostos
incidentes, até o limite de 1% (um por cento), conforme dispuser o Poder
Executivo.
33º) CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Por se tratar de um cálculo, onde ocorrem diversos fatores
que estão sujeitos a erros, no caso da pesagem for inferior ao do cálculo, a
diferença será relativamente sem importância, a não ser que sejam valores
altos, o que somente no porto de descarga poderá ser checado. (vide exemplo
acima)
O que ocorre na prática é que o armador ou afretador (transportador)
tem a responsabilidade de entregar no destino ao consignatário o valor
registrado no conhecimento de embarque.
Pode ocorrer durante a viagem devido a fatores como perda
inerente à natureza da carga que haja uma diminuição, o que pode gerar reclamação,
pois juridicamente a quantidade lançada no conhecimento é vinculativa ao
armador ou afretador (transportador), nesse caso deve ser apurado na descarga.
Desta forma, é de suma importância a vistoria de draft survey
no embarque para evitar claims, o que por outro lado o comandante deve ao
autorizar o seu agente a assinar o conhecimento em seu nome, que a quantidade
seja lançada de acordo com o valor descrito pelo embarcador (valor da balança
de terra), mas se estiver especificado contratualmente ou em algum acordo,
existe a opção do Imediato ao receber o Mate’s Receipt (recibo de bordo) faça
as ressalvas (remarks), com as seguintes expressões (sugestões): Clean on board declared by shipper, ou Shipper\’s load, stow, weight and count, entre outros.
Ocorre que havendo discrepância superior aos 0,5%, o risco de
reclamações de falta no porto de descarga seja aumentado, o que ocorre quase
sempre na prática que os exportadores insistem em não fazer observação nos
recibos e conhecimentos de embarque, e aconselharão o Comandante a emitir uma
carta de protesto registrando tal discrepância. O valor prático de tais cartas
de protesto é incerto e questionável, muitas argumentações ocorrem e tem gerado
processos na justiça, porém estes tipos de protestos acabam indo ao encontro de
argumentações de não aceitabilidade em determinados portos.
Muitas divergências ocorrem, porém para salvaguardar
interesses, existe o Contrato de Afretamento que possuem uma cláusula que
menciona a diferença aceita encontrada entre balança e draft survey.
A checagem no draft survey no destino é importante, pois
muitos casos a descarga são realizados em frações para diferentes terminais ou
portos, onde ficará difícil de provar o que descarregou em todos os portos.
Para se obter uma maior segurança para exportadores,
afretadores e armadores sugiro que haja representantes de ambas as partes por
ocasião da arqueação no porto de embarque.
Conforme o Decreto-Lei nº 116 em seu Art. 4º. As
mercadorias serão entregues ao navio ou embarcação transportadora, contra
recibo passado pelo armador ou seu preposto. § 1º Os recibos serão passados em
uma das vias não negociáveis do conhecimento de transporte, o qual conterá
espaço próprio para as anotações dos embarques parciais e ressalvas quanto à
falta ou avaria da carga e sua embalagem. É importante observar que o
Decreto-Lei nº 116 tem aplicação na relação transportador - entidade portuária,
e não na relação transportador – importador.
Desta forma o comandante tem o direito de incluir nos Mate’s
Receipt qualquer anotação relacionada ao estado e condições da carga.
É importante observar que o que ocorre mais comum num
embarque de granel, é quando os embarcadores apresentam o peso da balança a ser
inserido no conhecimento de carga, e há divergência sobre a quantidade da
arqueação, caso a discrepância esteja dentro dos limites normais ou habituais,
geralmente é aceitável pelas partes emitir conhecimento de embarque limpo com
os valores da balança, sem quaisquer remarks.
É necessário conforme visto nos procedimentos acima que a
vistoria de arqueação deve ser bem conduzida, para evitar que ultrapasse 0,5%
ocorra e haja o risco de reclamações de falta.
Outra prova para avaliação de quantidades embarcadas, é notar
que sempre as tampas de escotilhas são lacradas, chegando ao porto de descarga
com os lacres intactos, ficará difícil para alguma contestação de perda durante
o transporte, e possível confronto entre embarque e descarga. E importante que
o vistoriador no final do carregamento emita o SEALING CERTIFICATE, que é o
termo que contém o nº dos lacres de todos os porões.
É importante observar que o navio seja informado da vistoria
de arqueação com brevidade fins que a tripulação possa deslastrar os tanques de
lastro, façam mudanças necessárias do combustível nos tanques, enfim deixar o
navio sem banda apto para que não ocorra nenhum transtorno durante a vistoria.
Muita cautela deve ser observada quanto aos pesos variáveis,
óleo Diesel e água doce durante a estadia, devem ser descontados para o calculo
no final de carregamento.
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