terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

CUIDADOS COM O CAFÉ NO TRANSPORTE MARÍTIMO

O que é o café? É uma bebida apreciada em todos os cantos do planeta Terra, oriunda de sementes (grãos do café verde) e faz parte da família Rubiaceae, sendo que existem diferentes espécies como arábica e o conilon (ou robusta) porem a mais conhecida é a arábica (coffea arábica), que tem a sua maior produção em todo o mundo. É reconhecido o café como uma carga nobre pelo seu valor, e um dos bens comerciais mais importantes, sendo que pode ser transportado a granel ou ensacado, diretamente nos porões dos navios ou em containers. Atualmente embarcado em embalagem sacaria, que é a mesma usada em porões ou containers.

O mais recomendável é para ser usado o saco de fibra natural (juta ou sisal) que permite a livre circulação de ar. Outros tipos de embalagens existem como o big bags de polipropileno. Sacos de outros materiais como tecidos de polipropileno em nem todos os países são aceitos, pois a preocupação é a ventilação. Os sacos de juta, além da tradição centenária, trazem diversos benefícios para o transporte dos grãos verdes de cafés, sendo este tipo de sacaria um padrão no mercado cafeeiro mundial, e ainda está de acordo com as recomendações de Organizações Internacionais.

É uma carga que requer diversos cuidados pelas suas características, porque os grãos são higroscópicos (absorvem umidade), o que para isto é necessário um regramento para evitar que seja danificado, pois é vulnerável, sendo que a condensação é a maior preocupação no local de transporte. O grande problema enfrentado em nosso país quando se exporta o café, é que se embarcar em clima quente (verão) no hemisfério sul, e ser destinado ao hemisfério norte, com certeza vai haver uma troca de um ambiente quente e úmido, para frio, o que há maior tendência da formação de condensação.

No transporte de café em sacaria de juta um dos principais benefícios é a sua capacidade reguladora de umidade, evitando que o mesmo resseca e por isso não perde seu valor no mercado cafeeiro, sendo que devido as característica da fibra permite a entrada de ventilação.

Não podemos deixar de mencionar que na atualidade quando se fala em ecologia e sustentabilidade o transporte em sacaria de juta atende estes fatores, pois além de ser biodegradável não agride o meio ambiente.

Estudiosos informam que durante o transporte o café armazenado em porões / estufado em containers devem ser transportados a uma temperatura entre 10º e 25º, o que torna difícil a meu ver, a nossa temperatura no verão é de cerca 33º em média, e na Europa como exemplo pode atingir temperatura negativas. Na passagem pelo Equador a temperatura em média é de 40º.

Numa mudança de temperaturas, o risco é óbvio, vai haver condensação, e caso ocorra o grão poderá alterar o seu aroma, prejudicar o seu processamento, portanto de uma molhadura, poderá gerar mofo ou mesmo chegar até apodrecer, o que é grave e pode considerado perda total.

O sistema de ventilação de um container dry é fraco para atender mudanças de temperaturas altas.

Os riscos ocorrem devidos aos fatores: mudanças de temperatura, condensação / umidade, contaminações por odor de outras cargas, ou insetos.

Os cuidados com a limpeza de um container antes da estufagem é o mais importante a meu ver, deverá passar por um processo de lavagem externa e interna, quando poder-se-á verificar algum furo ou falha no fechamento e condições da borrachas de vedação da porta. A lavagem é algo que não deve ser desprezado para retirar vestígios de incrustações de cargas antigas, bem como a sua estanqueidade. A meu ver o melhor teste é ficar dentro do container com as portas fechadas e verificar alguma entrada de luminosidade.

Condensação pode ser causada por container não estando seco, após uma limpeza, deixado resíduos de água, que vão dar origem a vapor no caso do abafamento ao ser trancado, não podemos esquecer que o piso dos containers são de madeira, a madeira se após a lavagem não estiver seco, vai causar problemas para a formação de umidade no seu interior.

Quando a carga for paletizada, é importante observar se o madeira usada está verde ou molhada.

No sistema de ventilação natural localizado na parte superior pode dar passagem, ou seja, dado entrada de água, como também falha no sistema de pressão da borracha da porta são dois importantes pontos causadores de umidade.

Outro aspecto, são as mudanças de temperaturas, no caso durante o dia deixado no sol nos terminais, e à noite exposto a queda de temperatura, ou mesmo estivagem de containers próximo de alguma fonte de calor ou frio, também poderá causar umidade.

Outro aspecto a ser observado é quanto as avarias mecânicas provocadas no transporte por empilhadeira sob pallets e de manipulação por ganchos, onde ocorrem rasgos nas sacarias, sendo que em alguns portos é proibido o uso de ganchos pelos estivadores. Furos para coleta de amostras também causam perdas de produtos, se não forem usados corretamente, o que nem sempre são feitas costuras no furos.

Os grãos de café e os sacos de fibra, ficam facilmente contaminados pela proximidade de produtos com cheiro forte. É necessário distinguir entre o café que foi tão contaminado, e o café fermentado que pode produzir um aroma forte, somente após uma análise criteriosa de um Surveyor poderá ser verificado as causas.

Os grãos de café estão sujeitos à perda de peso, normalmente segundo especialista é aceita como 0,5%, mas variando entre os embarques. Este problema é ultrapassado comparando os pesos dos sacos rasgados ou danificados com os pesos médios dos sacos sólidos embarcados.

Outro aspecto importante é com relação a sacos molhados e danificados, sendo que nos molhados apresentam manchas externas nas sacarias, no caso de mofo, descoloração ou branqueamento dos grãos normalmente ocorrem na região que foi molhado.

O grande problema que recondicionar sacos é aumento dos custos, bem como certos recebedores consideram como perda total o saco manchado e conteúdo de grãos avariados, principalmente com resíduos de ferrugem. A grande preocupação é quanto o tipo de molhadura, se foi água salgada de borrifos do mar, chuva ou neve, porém sendo água doce, a sacaria apresenta um amarelamento fácil de distinguir, entretanto, quase sempre vamos encontrar mofo nos grãos na região da molhadura.

É bom observar sacos de polipropileno não deixam rastros como manchas ao serem molhados, mas por outro lado não permitem uma circulação de ar, como nos sacos de fibras naturais.

O transporte hoje em dia, em sua maioria, é feito em containers secos (Dry Box 20 ou 40 pés), que são containers não ventilados que possuem duas ou quatro aberturas nos seus painéis laterais fixados em forma de pequena janela na parte superior, o que entendo trata-se de uma ventilação natural, porem entendo que funciona mais para ajustar às mudanças de pressão, e nem sempre são suficientes para manter fora de ação a condensação. O ideal seria containers com ventilação forçada utilizando ventiladores e canais de ar e abas de ventilação como os containers frigoríficos. Alguns tipos de containers possuem nos painéis laterais um tipo de veneziana de aço, permitindo que haja um troca de ar mais efetiva.

Transportar café em sacaria em containers proporcionam um ambiente controlado, protegendo o café de elementos externos como odores, umidade, mudanças de temperaturas.

O grande problema do café até então é a condensação, e para entendermos melhor é importante lembrar que a questão maior é a temperatura dentro do porão ou do container, pois ocorre que a carga vai ficar exposta a temperaturas ambientes abaixo do ponto de orvalho.

Chapeamento do casco e paredes de aço do container são condutores de calor, no caso da temperatura externa cair, o que é normal ocorrer durante a noite, ou nas mudanças de clima quente para frio, as superfícies de ambos esfriam, e vai ocorrer o “ponto de orvalho”, ou seja, é uma temperatura em que o vapor d’água se torna líquido novamente, e como também o ar quente dentro do porão.

É bom lembrar que o container não esfria na proporção do chapeamento externo, desta forma o ar frio do exterior ao entrar em contato com o ar quente do interior, formará então a condensação que são gotículas de água, que vão se desprendendo do teto e caindo sobre a carga, sob forma de pingamento num processo contínuo.

Ocorre também a condensação nas amuradas dos porões o que para isto é importante haver uma forração para que a água que escorre não atinja o bloco de estivagem do café.

Esta mudança climática do navio carregar em verão e descarregar em inverno é uma das causas da condensação.

Uma das medidas de proteção ao gotejamento é a colocação no topo da pilha, papel kraft ou papelão ondulado, mas nesse caso entendo que ocorre um abafamento do café, pois o acesso de ventilação localizado na parede lateral do container, onde tem a marca limite, não deve ser coberto. A molhadura e o aquecimento provoca fungos, o que torna inaceitável o café.

Big bags de polipropileno vem sendo usado, onde os especialistas informam que elimina grande parte da umidade, ao contrário dos sacos de fibra natural.

Ao contrário do big bags de polipropileno os sacos de fibra naturais quando molhados apresentam manchas externas, e podendo ocorrer mofo, descoloração nos grãos ou branqueamento sob a área manchada.

No destino quando ocorrer este tipo de avaria, normalmente é feito um teste químico com nitrato de prata para verificar se a causa da molhadura foi água do mar (salgada), ao contrário de molhadura se for por chuva já indica manchas amarelas na superfície do saco.

É importante observar as condições do transporte, se for em porão ou em containers, no caso de porão verificar o sistema de fechamento e vedação de escotilhas, principalmente as borrachas de vedação, se existem furos provocados por ferrugens, sistema de limpeza das cavernas e teto, já no container a observação deve estar voltada para o fechamento das portas, se tem furo no teto, se as aberturas de ventilação estão corretas, e principalmente limpeza, não devem ser aceitos containers onde se encontram resíduos de cargas encrostados nas paredes corrugadas e piso, pois podem ser artifícios para condenar a carga, se verificar que o material é prejudicial à saúde.

Existem embarques de café em sacarias paletizadas, o que facilita e agiliza o embarque e descarga, entretanto devido aos balanços, entendo que devido espaços mortos, ou desalinhamento entre os paletes pode causar movimentos, e gerar rasgos nas sacarias, é usual a colocação de papelão entre o remonte, o que tem o lado negativo de causar abafamento.

A utilização eficiente do espaço consegue na estivagem de sacarias soltas.

Considerações finais:

Num embarque de café o exportador deve estar atento às condições contratuais, e bastante inteirado com as condições que o importador pleiteia, como exemplos: se nos portos de descarga exigem certas restrições na estivagem para o recebimento efetivo, os tipos de embalagens se estão de acordo com os contratos, enfim na negociação é fundamental se inteirar das exigências contratuais, fins evitar transtornos, pois o café por ser uma carga nobre de alto valor requer determinados cuidados. Acima apresento estas ideias, mas sugiro sempre escolher armazéns especializados na estivagem para fazerem o carregamento e estufagem. Algumas ideias foram tiradas do Livro Lloyd’s Survey Handbook, que acredito somam para uma preparação para o embarque de café no modal marítimo.

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