sexta-feira, 14 de junho de 2024

OPERAÇÃO DE CARREGAMENTO DE NAVIO DE CARGA GERAL (BREAK BULK CARGO)

Este tema não deixa de ser relevante para quem opera navios a bordo ou em terra, a arrumação da carga a bordo, ou seja, a estivagem da carga deve ser realizada segundo os preceitos que necessariamente variam de acordo com a natureza da embarcação e tipos de embalagens das cargas.

Devem-se observar os seguintes principais objetivos:

1º) Máximo aproveitamento da capacidade do navio em espaço e peso da carga;

a) Deve-se confeccionar um plano de estiva, distribuindo nos porões a carga de acordo com os portos de escala.

b) Respeitar as capacidades estruturais dos cobros (tank top strength) e cobertas para os navios de carga geral, no caso dos graneleiros, e containeiros aplica-se a mesma regra;

Tank top strength: é a resistência do topo do tanque, ou seja, o piso do cobro (porão) que é calculado como o máximo de 'toneladas por metro quadrado' (t/m²) que pode ser carregado.

Exemplo: tem um embarque programado de 600 tons de bobinas quente de aço, e você tem disponibilidade no porão 3, uma área de 30 x 20 m para o embarque dessas bobinas, sendo que a posição ideal para a arrumação dessas bobinas (carga de porte bruto de alta densidade) será no fundo do porão, ou seja, na parte superior dos tanques de fundo-duplo, logo deverá ser calculado qual será a tonelagem permitida, o que não deverá ser excedida, desta forma será dividir o peso total das bobinas (t) pela área total (m²) do espaço que vai ser ocupado (600 m²): Resistência: 300/600 = 0.5 t/m², comparado com o esforço permitido que seja de 0,42 t/m², tirado do caderno de estabilidade, existirá o perigo de sobrecarga, que será excedido, portanto deverá ser evitada esta tonelagem. Outra forma de calcular é área do topo do tanque (m²) x limitação do topo em toneladas: 600m² x 0,42 t/m²=252 tons no máximo.

Essa tonelagem limítrofe do topo do tanque é fornecida pelo Estaleiro e aprovado pela Sociedade Classificadora do navio, sendo que com o tempo de operação do navio, deverá ser aplicada cautela, deixando sempre uma margem de segurança para evitar deformações no chapeamento. O uso de madeira no piso para distribuição do peso também é uma alternativa prevencionista.

c) Calculo do calado para saída e chegada nos portos deverá ser observado, sempre deixando o navio derrabado (calado ar maior do av), para obter um melhor funcionamento do avanço do navio.

d) A separação e distribuição da carga é fundamental e deve ser considerada levando em consideração técnicas de segregação, evitando avarias.

e) O cálculo do fator de estiva da carga é importante para diminuir a quebra de estiva por ocasião da estivagem.

Fator de estiva (f.e.): é o volume de um compartimento ocupado por uma tonelada de carga, sendo que pode ser aplicada esta fórmula para os dois sistemas métrico decimal ou sistema inglês:

Sistema métrico decimal= f.e= (1000 x v) / p, onde “v” é o volume da carga em m³ e “p” é o peso, e “1000” é a constante correspondente.

Sistema inglês= f.e = (1000 x v) / p (sistema métrico decimal) ou f.e= (2240 x v) / p, onde o volume “v” é dado em pés cúbicos e o peso “p” é dado e libras, e “2240” é a constante correspondente, sendo correspondente a 1 (uma) tonelada longa, que representa 1016 kgs (kilos).

Exemplo 1: foi consignado para o navio “Alpha” o carregamento de motores elétricos, acondicionados em caixas de madeira, de forma e volumes iguais, sendo que cada caixa pesava 500 kg e possuíam as dimensões: 3 m x 1 m x 2 m. Aplicando a fórmula temos: f.e. = (1000 x 6) / 500 = 12 m³ / ton. A partir do cálculo obtemos que cada tonelada dessas caixas de motores elétricos ocupa 12 m³.

Exemplo 2: foi consignado um embarque de 200 tons de cartões de carne congelada, cujo fator de estiva é 2.52m³/ton. Qual o espaço necessário para a estivagem da carga? 300 tons x 2.53 m³/ton = 759m³

Exemplo 3: foi consignado o embarque de fardos de juta cujo fator de estiva é 1.85m³/ton, sendo a capacidade do porão de 2345m³, qual será o peso a ser embarcado? 2345m³ / 1.85m³/ton = 1267 tons

f) A configuração do casco de um navio, não possui medidas lineares devido à forma do casco, portanto em um porão de carga, haverá quebra de espaços devido à forma geométrica, perdendo espaços pelas cavernas, longarinas, escada de acesso, Hopper side tanks, braçolas, túnel do eixo, etc. Nos porões extremos a forma geométrica é mais acentuada perdendo mais espaços devido à proa e popa.

Numa estivagem deve sempre levar em consideração dois pontos: geometria do porão e propriedade da embalagem da carga.

Importante observar que a cubagem de uma carga é sempre feita pelas medidas mais extremas dos volumes, sendo que esta perda de volume, devido à arrumação da carga, denominados de “quebra de estiva”.

Quebra de estiva (q.e.): é sempre expresso em porcentagem, cujo valor é dado pela fórmula: q.e.= {(V – v) / V} x 100

Onde “V” volume do porão a ser ocupado; “v” volume da carga por unidade; “100” constante correspondente.

Exemplo 1: No navio “Zeus” foi realizado um carregamento de tubos de aço, cujo fator de estiva era 1.25m³/ton, sendo que o porão tem a capacidade de 2500m³, porém com uma quebra de estiva de 15%, qual foi a tonelagem a ser embarcada?

Tons: volume porão / fator estiva = 2500m³ / 1.25m³/ton = 2000tons

Quebra de estiva: 15% de 2000tons = 300tons

Carga que deve ser embarcada= 2000-300=1700tons.

Exemplo 2: Tenho que embarcar 150 tons de caixa de peças de carro, cujo fator de estiva é 1.42m³/ton, sabendo que a quebra de estiva é 5%, qual o volume a ser ocupado?

Caixas de peças de carro: V/f.e.=ton > V/1,42m³/ton = 150tons > V= 150tons x 1.42 m³/ton = V=213m³ > aplicando q.e 5% = 213m³x5/100=10,65m³, logo o volume a ser ocupado será de 213+10,65= 223,65m³

Exemplo 3: No navio “Beta”, vão ser carregadas 500 toneladas de carga geral, num espaço contendo 28000 pés cúbicos, considerando um fator de estiva de 50 pés cúbico por tonelada, com uma quebra de espaço de 5%. Será o espaço suficiente para este embarque?

Primeiro vamos calcular o espaço, volume a ser ocupado, considerando 50 p³/t : 500 t x 50 p³/t = 25000 p³ + 5% de quebra de espaço = 25000 + 1250 = 26250 p³.

Segundo calcular se o espaço planejado para a estivagem é suficiente: espaço porão=28000 p³ - espaço calculado da carga e ser embarcada=26250 = 1750 p³, ou seja, ainda existe um espaço de 1750p³ disponível.

2º) Segurança para o navio;

a) Deve ser levado em conta: distribuição dos pesos bem planejados, em função da estabilidade transversal, em função de um bom compasso, de forma que o navio fique com o trim desejado, em função da resistência estrutural das chapas dos diversos compartimentos como: cobro, coberta, convés, e em função de não alquebrar ou contra-alquebrar o navio.

Trata-se de cálculos técnicos que são realizados através de simulação no loadmaster, de forma que o operador obtenha resultados satisfatórios não comprometendo a segurança do navio.

3º) Segurança para a sua tripulação;

Um navio está sujeitos às intempéries do mar, portanto a tripulação não deve ficar apreensiva e com risco de sofrer acidentes, ou até mesmo risco de vida, por isso no cálculo do loadmaster o operador deve buscar um calculo em que o centro de gravidade do navio fique relativamente baixo para evitar, para isto maior peso da carga deve ser colocada na parte mais baixa (cobro) de forma compensatória, evitando que o baixe demais o CG para o navio não ficar prejudicado na qualidade de comportamento de balanços, ou seja, pensar no pêndulo, e nas qualidades marinheiras e no comportamento do mar e vento, evitando exigir da tripulação maiores preocupações com a peação da carga, tirando o conforto pelo excesso de balanços e até impossibilitando a cozinha de funcionar. No cálculo de estabilidade deve observar a GM (altura metacêntrica transversal) ideal dentro dos cálculos propostos pelo estaleiro ao confeccionar o caderno de estabilidade com os diversos cálculos de carga e sua distribuição, de forma a manter o navio confortável aos balanços do mar.

(4º) Segurança para a carga a ser estivada e transportada;

São cuidados dentro de um planejamento de forma a tomar maiores cuidados para que a carga não se avarie e nem provoque avarias em outras, por atrito ou por odores, etc. A proteção da carga deve iniciar com a condição de estarem limpos e secos os porões, para isto, de posse da lista de carga deve ser feito um planejamento separando criteriosamente quanto à fragilidade, odor, mancha, perigo de contaminação a outras cargas, periculosidade (radioatividade, veneno, explosivos, etc.). Em situações que requer uma necessidade de estivar grande partida de cargas frágeis, especiais cuidados devem ser levados em conta, com pensamento voltado para os efeitos da pressão na estivagem remontada pára não sofrerem deformações. Cargas frágeis como o café, pimenta do reino, cacau, arroz, fardos de fumo, etc. devem ser estivadas de forma que possuem uma boa ventilação, no caso de embarques de sacarias estivar colocando dutos (corredores) de ventilação.

5º) Rapidez para operações de carga e descarga.

A confecção do plano de carga, e a distribuição da carga, para a operação com número de ternos são elementos primordiais podendo acelerar ou retardar as operações de carga e descarga nos portos, sendo que a tonelagem por porões deve sempre ser proporcional para uma operação em conjunto e término próximo de ambos os porões. Um bom plano de estiva, deve visar a redução da estadia para cumprimento da escala nos posteriores portos. Uma GM boa, e um bom compasso devem ser preservados.

O transporte seguro começa com o expedidor

O pré-requisito mais importante para tornar o transporte marítimo tão seguro quanto possível é que os expedidores de mercadorias perigosas já cumpram determinados requisitos. Devem atribuir à carga uma das nove classes de mercadorias perigosas do Código IMDG (dependendo da natureza do perigo que apresenta), declará-la corretamente e embalá-la com segurança. Além disso, devem transmitir adequadamente esta informação a todas as partes ao longo da cadeia de transporte.

Realizando uma estivagem correta e tendo um plano de estiva no término do carregamento a tripulação tem todas as informações necessárias para manusear a carga com segurança durante o transporte, se for o caso de efetuar um reforço de peação, como exemplo, e responder adequadamente a uma emergência.

  

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